Crise atinge até a classe de engraxate

A vida de engraxate não está fácil. Devido às dificuldades econômicas dos últimos anos e à falta de tempo, a clientela sumiu. Considerados tradição de Curitiba, principalmente na Boca Maldita, os engraxates vão levando a vida como dá, mas sempre atentos aos acontecimentos e assuntos discutidos pelas pessoas freqüentadoras do centro da capital.

O engraxate Esperidião Alves de Souza, que trabalha há 25 anos na profissão, conta que o movimento caiu 70% ao longo dos anos. Antes, ele atendia 30 clientes, em média, por dia. Hoje, o número não passa de oito. Para Souza, a razão principal do sumiço daqueles que gostam de engraxar o sapato é a crise econômica. “Tudo está parado e não tem jeito de melhorar. O hábito ainda existe, mas todo mundo está com o dinheiro contado para pagar as contas”, comenta. “Se a coisa melhorar, os clientes voltam. Mas a esperança é pouca”, explica. O serviço custa R$ 3.

Já o engraxate Manoel Antunes da Silva acredita que a diversificação dos materiais usados nos sapatos também afastou os clientes. Os calçados de camurça e os tênis, por exemplo, não precisam desse serviço. “Antes os homens só usavam sapato social preto. Somente os clientes mais fiéis, que ainda usam esse tipo de sapato, vêm todos os dias”, explica.

Segundo José de Lima Paulino, engraxate há 24 anos, a falta de tempo das pessoas na correria frenética das cidades também contribui para a queda no movimento. “Além da crise financeira, as pessoas não têm tempo para nada. A situação está bem complicada e a queda é geral”, avalia. Mas para alguns clientes dos engraxates, o serviço funciona justamente para dar uma pausa e deixar passar o tempo. “Eu engraxo meus sapatos há dez anos, praticamente todos os dias. Leio o jornal e converso muito”, conta Munir Mushashe, comerciante.

Apesar do momento crítico, os engraxates continuam tendo satisfação em trabalhar. Ainda mais porque são muito bem informados do que acontece na cidade. As discussões com os clientes giram em torno de vários assuntos, mas os favoritos são futebol e política. “Só nessas conversas dá para ter idéia de quem vai vencer as eleições para a Prefeitura de Curitiba”, afirma Souza, que não quis revelar o provável vencedor.

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