Copom alerta: juro deve ser mantido em alta

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) acredita na manutenção dos juros altos ainda por um longo período e não descarta inclusive a possibilidade de aumentá-los para fazer a inflação convergir para a meta ajustada de 5,1% de inflação em 2005. A avaliação consta da ata da reunião que elevou os juros básicos da economia de 17,25% para 17,75% na semana passada, divulgada ontem pelo BC. Foi a quarta elevação consecutiva.

"No entender dos membros do Copom, a combinação de etapas adicionais desse processo de ajuste (gradual dos juros básicos) com um período suficientemente longo de manutenção dos juros após a sua conclusão deverá reduzir de forma significativa a probabilidade de que a trajetória futura da inflação se desvie dos objetivos estabelecidos para a atuação da política monetária", diz a ata.

A meta de inflação para 2005 é de 4,5% do IPCA, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. No entanto, em setembro, o BC divulgou que iria trabalhar com um objetivo de 5,1%. O mercado esperava, na semana anterior à reunião do Copom, uma inflação de 5,78% no ano que vem.

Após a decisão da semana passada, os analistas financeiros reduziram para 5,76% essa previsão, e avaliaram ainda que em janeiro a taxa será mantida em 17,75%, segundo o boletim Focus realizado semanalmente pelo BC.

O Copom justificou a última elevação dos juros como necessária para assegurar que a inflação esperada pelo mercado caminhe para o objetivo do BC. O documento diz ainda que já houve uma certa redução das expectativas do mercado desde setembro, quando o movimento de alta da Selic foi iniciado.

"Tendo em vista a necessidade de assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas no horizonte relevante para a atuação da política monetária, os membros do Copom entenderam que o processo de ajuste gradual dos juros básicos deveria prosseguir no ritmo originalmente previsto."

Como fatores que contribuíram para a convergência das expectativas de mercado para objetivo, embora não no ritmo esperado pelo BC, o comitê cita a redução nos preços internacionais do petróleo, a valorização do real frente ao dólar e um certo arrefecimento no ritmo de expansão da atividade econômica.

O petróleo está sendo comercializado pouco acima de US$ 44 o barril, após ter sido comercializado a mais de US$ 55 neste ano.

No entanto, o Copom avisa que a exacerbação dos considerados "fatores de risco", como os preços do petróleo e as expectativas de inflação, poderá levar a uma alteração no ritmo de ajuste da política monetária. Essa preocupação já havia sido destacada pelo comitê na ata da reunião de novembro.

O Copom espera também que o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) continue com a adoção de um aumento moderado nos juros.

"A eficácia do ajuste na magnitude prevista depende também da percepção antecipada de que esse ajuste será mantido por tempo suficiente para que surta os efeitos pretendidos. Caso avalie que há risco de descontinuidade nesse processo de convergência da inflação e das expectativas para os objetivos da política monetária, a autoridade monetária estará preparada para alterar o ritmo e a magnitude do processo de ajuste nos juros básicos iniciados na reunião de setembro do Copom", diz o documento de ontem.

Fiesp taxa ata de "terrorista"

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, criticou a nota do Copom que, em sua avaliação, anuncia, veladamente, recessão à frente e surpreende a todos, ou seja, "crescimento adicional de juros e sua manutenção por longo período", afirma.

Segundo o empresário, "o Copom está reconhecendo o que todos já sabiam, ou seja, sua baixa capacidade de atuação em preços administrados e de commodities, e quer submeter os preços livres à forte pressão, via redução da atividade econômica e valorização cambial, a fim de compor a ambiciosa e irreal meta de inflação futura.

Para tanto, quer descaracterizar a evidente atenuação da produção industrial introduzindo o inovador conceito de análise por dia útil, que se agrega ao de sazonalidade, pelo qual um mesmo mês pode ter, ano a ano, distintos valores".

A Fiesp afirma que, por não saber como funciona a produção industrial, atividade desde muito longe do seu imaginário, o Copom acredita que 82,7% é taxa limite de ocupação da capacidade instalada. "Mais uma vez, seus integrantes correm para o abraço do setor financeiro, que há de louvar a prudência, e não escutam as vaias dos setores produtivos e dos trabalhadores", enfatiza Skaf.

Gasolina não deve ter aumentos em 2005

O preço dos combustíveis não deve subir em 2005 e há até a possibilidade de uma redução ao longo do ano, segundo avaliação da ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que elevou os juros básicos brasileiros de 17,25% para 17,75% na semana passada. Considerada pessimista, a ata do Copom afirma que os juros deverão continuar altos por um longo período em 2005 e podem inclusive subir para fazer a inflação convergir para a meta ajustada de 5,1%.

A previsão sobre a gasolina leva em conta a queda no preço do petróleo no mercado internacional – que hoje é comercializado pouco acima de US$ 44 o barril, após ter sido vendido a mais de US$ 55 neste ano.

Também considera o impacto dos reajustes feitos no mercado doméstico neste ano – no último dia 25, a Petrobras anunciou um novo reajuste para os combustíveis. A gasolina subiu 4,2% nas refinarias e o óleo diesel, 8%.

"No campo doméstico, com os aumentos recentes nos preços dos combustíveis, a hipótese básica com a qual o Copom trabalha é a de que não ocorram novos reajustes em 2005. Caso venha a se materializar um cenário relativamente mais benigno para os preços do petróleo no mercado internacional do que o cenário básico de trabalho do Copom, é possível, inclusive, que surja espaço para que os preços domésticos dos derivados sofram alguma redução ao longo do próximo ano", diz a ata da última reunião do comitê, divulgada ontem.

Por conta dos reajustes da Petrobras, o BC elevou de 9,5% para 13% a previsão de alta nos preços da gasolina em 2004.

No caso do reajuste de gás de botijão, a projeção passou de 5% para 6,5%. Para 2005, o reajuste desse item também deverá ser zero na previsão do Copom.

Para a energia elétrica, a previsão é que as tarifas subam 9,5% no ano que vem. Já a previsão para o aumento dos preços da telefonia fixa é menor, 7,7%.

Em relação ao reajuste de todos os itens administrados por contrato e monitorados, o Copom reduziu a previsão de 7,2% para 6,7% em 2005.

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