Câmbio não deve ficar ao “sabor do mercado”

São Paulo – O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, discorda da posição defendida pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que o mercado deve definir o patamar ideal ou de equilíbrio da taxa de câmbio. Ao contrário das duas maiores autoridade do governo em matéria econômica, Lacerda acredita que é o governo quem deveria definir o patamar cambial.

“A taxa de câmbio não pode ser fixada pelo mercado, que por si só, já é desigual, volátil, nervoso…”, disse Lacerda, ao comentar as declarações, de anteontem, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o dólar não pode cair demais. No caso do Brasil, acrescentou Lacerda, “a demanda por dólar é forte, daí a volatilidade da taxa de câmbio verificada”.

Com base ao comportamento da economia mundial nos últimos anos, Lacerda explicou que, nos períodos de liquidez do mercado internacional e de confiança no Brasil, por exemplo, a tendência do câmbio no País foi de valorização e, nos períodos de instabilidade e de desconfiança, o “overshooting” foi praticamente inevitável. “O governo precisa acabar com essa volatilidade usando a política monetária, e não simplesmente esperar que seja o mercado quem determine qual a taxa ideal para o câmbio”, alertou o presidente da Sobeet.

Hierarquia

Lacerda lembrou que o Brasil tem vários problemas que precisam ser hierarquizados. Um deles, explicou o executivo, é a vulnerabilidade externa. “Se o governo quiser enfrentar isso, não pode cair na tentativa de valorizar demais a taxa de câmbio. Ao contrário, precisa sinalizar uma taxa de equilíbrio.” Outro problema, acrescentou o presidente da entidade, é essa grande volatilidade, que dificulta as decisões do setor produtivo do País e as quais envolvem, por exemplo, novos investimentos.

“Na medida do possível, o governo precisa sinalizar qual é essa taxa”, disse Lacerda. “Olhando como estava a taxa de câmbio no início do ano passado, antes de os fatores de instabilidade terem provocado aquele ?overshooting?, a taxa de equilíbrio estaria hoje entre R$ 3,00 e R$ 3,20”, disse.

Lacerda acredita também que, embora o déficit em conta corrente tenha sido reduzido, o Brasil tem ainda necessidades financeiras de US$ 30 bilhões por ano para cobrir esse déficit e os vencimentos da dívida externa. “É bom lembrar que as nossas reservas internacionais, de cerca de US$ 40 bilhões, das quais metade são do Fundo Monetário Internacional, são pouco confortáveis”, alertou. Para ele, o Brasil continua vulnerável.

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