Brasil descarta salvaguardas no Mercosul

Brasília (AE) – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, descartou ontem a adoção imediata de salvaguardas a produtos agrícolas importados dos demais países do Mercosul. A proposta de fixar cotas para importação de arroz, trigo, vinho e alho é defendida por parlamentares e por representantes dos agricultores do Sul do País, principalmente do Rio Grande do Sul. A comercialização de produtos agrícolas no bloco foi discutida, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, no Senado.

"Por enquanto não é possível adotar salvaguardas, porque essa é uma questão (mecanismo) que não funciona num bloco de união aduaneira", comentou Rodrigues, depois de se reunir com deputados gaúchos. "Porém, a Argentina tem adotado a política de salvaguardas. Se eles (argentinos) colocarem esse tema insistentemente, o Mercosul pode rever o assunto, mas por enquanto não há essa decisão", comentou.

Rodrigues afirmou que as reclamações dos agricultores gaúchos são "justas, justíssimas". Depois de se reunir com representantes dos agricultores e parlamentares gaúchos e de ouvir as queixas do setor, Rodrigues disse que já conhece as reclamações. O ministro contou que todos os setores do governo estão empenhados para encontrar soluções que evitem uma crise do setor agrícola em 2005. "Nem todas são simples, porque dependem de ações articuladas de vários ministérios e dependem de instrumentos de negociação internacional que são complexos", comentou.

Cotas

O presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, pediu o estabelecimento de cotas de importação como forma de regular o comércio. "Defendemos a revisão do acordo do Mercosul. Os custos de produção na Argentina são bem inferiores aos nossos, e os agricultores brasileiros não podem ser prejudicados por esse cenário", afirmou. Uma máquina agrícola custa na Argentina e no Uruguai 60% do que custa no Brasil. "O Brasil tem força para propor uma revisão das regras do bloco", disse.

O Itamaraty, no entanto, não parece ser favorável à adoção de salvaguardas ou restrições comerciais para os países do Mercosul. "Temos de ter calma e ser comedidos. Comércio se gera com mais comércio e não com restrições", afirmou o embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho, diretor do Departamento de Integração do Ministério das Relações Exteriores.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, pediu ainda que o governo brasileiro impeça as importações de alho da Argentina nos quatro primeiros meses do ano. Nesse período, os produtores brasileiros comercializam sua safra, que, segundo ele, é suficiente para atender a 50% do consumo interno. "Não somos auto-suficientes, precisamos do alho importado, mas o governo deve proibir as importações no momento que comercializamos nossa safra", disse.

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