Bancos vislumbram dólar a R$ 2,50

Operadores do mercado de câmbio traçam um cenário extremo para o dólar no curto prazo. A moeda americana recuaria, ainda neste mês, para R$ 2,50 – o menor patamar desde maio de 2002. Possíveis fatos com potencial de derrubar ainda mais a cotação: renovação do acordo do Brasil com o FMI, melhora da nota ("rating") do Brasil pelas agências de risco, aumento da força política do governo Lula no Congresso após reforma ministerial e recuo da inflação, reduzindo o risco de alta agressiva dos juros.

Nem as intervenções do Banco Central por meio de leilões de compra de divisas e venda de contratos cambiais ("swap") seriam suficientes para segurar o "tsunami" que inunda de dólares o mercado brasileiro. Segundo operadores, após o Carnaval, grandes empresas vão reabrir a temporada de captações externas. Desde janeiro, só os bancos estão fazendo emissões. Lá fora, há forte apetite por papéis brasileiros.

BC desafiado

O BC deve continuar diariamente, com exceções técnicas (feriados e véspera de vencimento de dívida), os leilões de compra de divisas no mercado à vista, a fim de reforçar as reservas em moeda estrangeira do País.

Essas medidas surtem pouco efeito na tentativa de forçar uma alta da cotação. A oferta da moeda é crescente e favorece a baixa das cotações. Bancos e o próprio governo estão captando bastantes recursos no exterior, com facilidade e custo menor.

Investidores estrangeiros estão trazendo seus dólares para o Brasil, a fim de aplicar recursos em ações e títulos de renda fixa, principalmente aqueles que remuneram pelos juros, que estão em alta desde setembro.

O vigor das exportações se mantém, apesar do câmbio desfavorável. A explicação: o efeito negativo da queda do dólar sobre as exportações é retardado, pois muitas empresas fecham contratos com prazos de seis meses a dois anos utilizando uma cotação do dólar preestabelecida.

As vendas externas de janeiro deste ano do segmento de calçados, por exemplo, já foram acordadas pelo menos há quatro meses, quando o dólar estava acima de R$ 2,90.

FMI e rating

Não há ainda decisão formal sobre uma possível renovação do entendimento entre o Brasil e o FMI. O atual acordo foi iniciado em 1998, foi prorrogado por três vezes e tem seu término previsto para março. Caso o governo decida renovar o acordo, há chances de que o risco brasileiro desabe, pois o risco de calote da dívida ficará menor. No mês passado, agência de classificação de risco Moody?s acenou que poderá elevar a nota de avaliação ("rating") da dívida em moeda estrangeira do Brasil no curto prazo.

Já uma reforma ministerial capaz de recuperar as forças políticas do governo Lula no Congresso seria positiva, na avaliação dos bancos, porque aumentaria a chance de o Planalto aprovar projetos de interesse do mercado, como a autonomia do Banco Central. Os bancos já esperam a saída do presidente do BC, Henrique Meirelles, que pode deixar o cargo para concorrer às eleições para o governo de Goiás em 2006. Com a aprovação do projeto de autonomia do BC, promessa já feita pelo ministro Antônio Palocci (Fazenda), os credores ficariam menos preocupados com uma "dança das cadeiras" no BC.

Fed

A decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de elevar os juros pelo sexto mês – de 2,25% para 2,50% – também é favorável ao fluxo de capital para os países emergentes, como o Brasil. O Fed não sinalizou disposição de aumentar o ritmo do processo de aumento dos juros, como se temia no início de janeiro.

Dólar volta ao patamar de R$ 2,60

O dólar caiu 0,49% e fechou a R$ 2,603. Ontem pela manhã, a moeda norte-americana chegou a ficar abaixo dos R$ 2,60 com uma mínima de R$ 2,591 (queda de 0,95%), mas desacelerou à tarde, quando o Banco Central comprou divisas no 17.º leilão realizado neste ano.

Também ajudou a conter a baixa no Brasil o fato de que o dólar se valorizou ontem no exterior, após anúncio de dados sobre aumento da produtividade nos EUA. Já o Banco Central Europeu manteve o juro em 2% ano. O euro caiu abaixo de US$ 1,30.

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