Abeifa: venda de importados recua 28,6% em agosto

A queda de 28,6% nas vendas de veículos importados em agosto deste ano na comparação com o mesmo mês de 2013 frustrou a expectativa da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) de que a recuperação do setor aconteceria já no segundo semestre do ano. Para a entidade, o recuo é resultado, sobretudo, da falta de demanda, e não de crédito. Diante desse cenário, a direção da associação não prevê uma recuperação do setor no médio e curto prazo.

“Nosso problema é de demanda, não é de crédito. Pode até ser um estímulo, mas não vai ser suficiente para a contribuição que precisamos”, afirmou o presidente da Abeifa, Marcel Visconde, ao comentar os resultados de agosto. Para ele, por mais que haja estímulos ao crédito por parte do governo e de bancos para incentivar o consumo, essas medidas não estão mais caindo no gosto do consumidor final, porque “não trazem novidades”. Segundo ele, o grande problema da baixa demanda hoje é a falta de confiança. “Vemos o consumidor com pouca crença em relação ao futuro”, disse.

Visconde afirma que essa falta de confiança é resultado, entre outros motivos, da atividade econômica mais fraca, evidenciada por dados do PIB em recessão técnica, e da expectativa das eleições. O presidente afirma que, para setembro, o mercado deve cair ao redor de 7% ou 8%, completando o terceiro trimestre do ano em queda de aproximadamente 12%. Para o quarto trimestre do ano, ele espera que as vendas devem ser impulsionadas em razão do Salão do Automóvel, em novembro, quando muitas empresas devem apresentar novos produtos, chamando a atenção dos consumidores.

Para 2014, a Abeifa revisou pela segunda vez sua previsão de 100 mil para cerca de 90 mil unidades vendidas, mesmo patamar de 2013. No início do ano, a estimativa da entidade era de 120 mil carros. A associação afirma ser difícil fazer projeções do setor para 2015, uma vez que deve ser um ano de “travessia”, em razão dos ajustes que o novo presidente precisará fazer. Para diretores da entidade, o governo precisa decidir se continuará “fechando” ou se abrirá a economia brasileira. Eles acreditam que a recuperação do setor só deverá vir mesmo a partir de 2016.

O presidente da Abeifa afirma que a entidade espera uma nova situação de investimento no País. Para ele, isso poderá acontecer na medida em que haja um choque de realidade com novo time econômico do governo. “O que falta hoje é um pouco de credibilidade. Resgatando isso, a atração de capital pode mudar”, diz, informando que a associação não declarou voto nem apresentou propostas a nenhum dos candidatos à Presidência. Para ele, o novo governo deve implantar mudanças no programa Inovar Auto e na matriz energética brasileira.

“O mercado hoje vive muito mais de expectativa do que de realidade. Em 2004, quando entendemos que o Lula iria fazer um bom projeto econômico, o mercado cresceu 22%. Se o novo presidente inspirar confiança, podemos ter um primeiro semestre na mesma ordem de grandeza”, destacou o vice-presidente da associação, Sérgio Habib. Ele destaca que, apesar de o crescimento do mercado de carros importados novos estar caindo 8%, em média, o de usados está em situação oposta, crescendo aproximadamente 9%. Segundo ele, isso tem relação com o medo do futuro do consumidor.

Etanol na gasolina

O aumento do porcentual de etanol na gasolina para 27,5% deverá ter impactos técnicos relevantes na qualidade de produtos de algumas empresas, avaliou Visconde. A alteração foi proposta por meio de Medida Provisória aprovada ontem pelo Senado Federal, que seguiu para sanção da presidente Dilma Rousseff.

“Existem problemas reais. Vai ter carro que não vai ligar”, afirmou Visconde durante entrevista coletiva à imprensa para comentar o resultado das vendas de importados em agosto. Ele disse que a medida deverá ter impactos negativos relevantes e que por isso espera que a mudança seja feita da melhor forma possível. A lei atual permite ao governo estabelecer o porcentual do etanol anidro na gasolina entre 18% e 25%. O texto aprovado ontem manteve o piso de 18%.

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