É só engolir fast-food

Em países do chamado primeiro mundo, há forte questionamento e começa a haver repulsa aos alimentos vendidos pelas cadeias de comida rápida, aparentemente barata, comercializada em locais idênticos pela uniformização consentida. Bem, desse fato preocupante, para quem se interessa pela saúde física, mental e psicológica de um povo, é preciso investigar os motivos que estão levando países com norma crítica muito forte e atuante a pôr em questão o valor dos alimentos oferecidos pelas cadeias mais conhecidas.

Em breves linhas, é preciso voltar o relógio do tempo e volvermos à época do pós-guerra: em torno de 1945/1946. A forte propaganda engendrada pelos americanos deu a todos a nítida (=falsa) impressão que teriam vencido sozinhos a guerra. Por toda a parte, eram os únicos, alimentados por dezenas de filmes, em que apareciam como heróis, sempre bonzinhos, altruístas, cooperadores, apesar das bombas atômicas contra o gigante japonês de pés de barro já combalido. Esqueceram-se facilmente as milhares de vidas ceifadas em segundos, quando, se admissível, bastaria uma só, atirada e letal, para servir de exemplo.

Com a vitória nas armas e na propaganda, a vitória do “sonho americano” e do “modo de vida americano”, levando até ao absurdo das jovens nipônicas de então, a todo custo, trocar seu país para se casar com um americano e condividir a riqueza.

Espalharam as empresas estadunidenses hábitos de parte de sua população, que foram se ampliando, ganhando maioria lá mesmo e no exterior.

Uma verdadeira obsessão gerou tantos inconvenientes que, se até agora o feitiço não se voltou contra o feiticeiro, praticamente, está acabando com a saúde da maioria silenciosa dos Estados Unidos e produzindo uma multidão de obesos pelo mundo afora.

Recentemente, um distinguido conhecedor de nutrição, que ocupa cargo relevante em Nova York, publicou um livro-panfleto que deveria ser distribuído a todo os pais brasileiros interessados no bem-estar (físico, psíquico e mental) de seus rebentos. Seu título, em tradução literal, é “A política dos alimentos: como a indústria de alimentos influencia a nutrição e a saúde”.

Partindo da premissa de que as indústrias americanas produzem mais comida do que os cidadãos precisam, ou 3.800 calorias por dia, o dobro do necessário para homens e mulheres, elas se valem, através de manobras e combinações, com as indústrias de refrigerantes, para impingirem ainda mais desnecessárias e indesejáveis calorias à multidão de infelizes que consomem e bebem seus produtos. Daí resulta que aumenta, assustadoramente, o número de obesos, chegando a quase 30% da população.

Ora, a obesidade traz graves conseqüências à saúde, com o incremento de moléstias cardiovasculares, diabetes, câncer, hipertensão, asma e outras. Isso gera aumento nos custos e nas despesas da Previdência, pagando a conta os contribuintes mais pobres ou a classe média.

Tudo deságua, como que de propósito, pois os doentes consomem mais remédios e qualquer um sabe como agem despudoradamente os laboratórios.

A trípole mortal, que vende alimentos hipersaturados, enganando os infelizes que se tornam obesos e que se convertem em consumidores permanentes de remédios, enriquecem esses mercados malignos. Para enganar ainda mais, incentivam os energúmenos a permanecer à frente da televisão, vendo lixos de desumanidade, pornografia e desamor, ou jogando pelos computadores ou na internet, com a licenciosidade escancarada ou com a pedofilia ou a prostituição de menores campeante.

Enquanto os pobres engordam e se tornam obesos, comprando bebidas, refrigerantes e remédios, os ricos têm academias e clubes privados: a pequena elite é magra, bronzeada, bem exercitada, enfim, enxuta.

Um parênteses

Parece que o então presidente Itamar Franco, quando me convocou para elaborar um substitutivo ao anteprojeto de lei antitruste – o que fiz a tempo e à hora -, para combater os malefícios dos laboratórios no mercado e contra os brasileiros, antevia a desastrosa atuação deles. Mas, não vingou o que fiz. Sepultado por obra e arte das lideranças congressuais, com o estandarte do PSDB.

Por fim e para parar ou estancar a obesidade, diminuindo as doenças e cortando o uso de drogas que viciam, o retorno ao passeio obrigatório a pé, a fuga das lanchonetes, da Tv, dos computadores e da internet, assim como o preparo de comida em casa ou no trabalho, dará maior confiança ao povo brasileiro, nessa época de mudanças radicais: acorda Brasil!

Jayme Vita Roso é advogado em São Paulo, presidente da ONG Curucutu Parques Ambientais e conselheiro da Federação Interamericana de Advogados e do Instituto dos Advogados de São Paulo. E-mail:

vitaroso@dialdata.com.br.

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