Dinheiro sai pelo ralo

Não existe no Brasil de hoje um modelo de governo. Existem, entretanto, mil formas de gastar o dinheiro do povo, que paga a maior carga tributária do mundo. No frigir dos ovos, sobra dinheiro no papel e falta nas atividades fim da máquina governamental, o que significa que muito se paga, muito se arrecada e mal se gasta. Restam as necessidades da população, as carências no processo de desenvolvimento econômico, na geração de empregos, nos investimentos em saúde pública, educação, infra-estrutura e segurança.

Difícil diagnosticar o problema, mas não seria ousadia imaginar que essa barafunda de gastos sem resultados práticos resulta da idéia de que este é um governo socialista, embora use, para fazer caixa e manipular dívidas, instrumentos ortodoxamente capitalistas.

De um lado, o governo busca superávites maiores que os prometidos e mesmo exigidos nos projetos de ajuste fiscal, sejam os próprios, sejam aqueles inspirados nas normas do Fundo Monetário Internacional ou exigências dos credores. Para tanto, pratica uma política fiscal capitalista das mais ortodoxas e, como as necessidades internas de recursos para o desenvolvimento nacional são gigantescas, o dinheiro corre como um tsunami para o sistema financeiro internacional e nacional.

Tenta-se ainda, mesmo que no papel e longe da prática, executar programas sociais que, mesmo sendo grandes, estão a quilômetros de poder atender às gigantescas necessidades da nação. Há mais pobres além da conta e menos recursos para atendê-los do que se deveria aportar. Alguns exemplos têm surgido. A comprovação, por exemplo, de que em Brasília se gasta mais em fotocópias do que em programas sociais ou mesmo educacionais. Os dispêndios absurdos com a manutenção de duas casas de Congresso, quando uma só seria suficiente. E sobrariam menos parlamentares para as maracutaias do caixa 2 e dos mensalões.

A última notícia é que a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), que foi criada para ser uma nova Sudene porque esta foi extinta depois de muitos anos de negociatas e desperdícios, é responsável pela administração de quase R$ 1 bilhão de recursos para promover a economia do Nordeste brasileiro. Mas a Adene ou nova Sudene não conseguiu aplicar nem um centavo no Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE). Não obstante, a autarquia substituta da Sudene registrou um crescimento expressivo, nos últimos quatro anos, em seus gastos com pessoal e despesas correntes.

O Sistema de Administração Financeira do governo federal mostra que dos R$ 12,6 milhões investidos na agência em 2005, R$ 9,2 milhões foram para pagamento de funcionários e manutenção do órgão. Isso significa mais de 70% dos recursos só para manter funcionários e a máquina da Adene. Ou seja, se gasta prodigamente nas atividades meio e pouco ou quase nada nas atividades fim. O exemplo deve servir para diversos outros órgãos, programas e atividades deste governo que tenta administrar o País de forma capitalista e encenar investimentos socialistas.

Falta objetividade. Se o Brasil tem grandes problemas e parcos recursos, as atividades fim é que devem consumir a maior parte das verbas. E a máquina administrativa ser a mais enxuta possível. Melhor ainda se dela puder ser retirada a horda de servidores nomeados por indicação política para que apóiem o governo, pois estes gastam o dinheiro que a administração federal deveria usar para atender o povo.

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