Depois do escândalo, Kroll cancela festa de 10 anos no Brasil

São Paulo, 03 (AE) – A festa prometia ser boa, afinal, não é todo dia que uma multinacional comemora uma década de instalação no Brasil. O salão de um dos buffets mais nobres de São Paulo foi reservado, comes e bebes encomendados e os convites impressos. O fundador e dono da empresa, que vive em Nova York, marcou a data na agenda e reservou lugar num avião para estar presente no evento. Aí veio o escândalo. Bem na hora em que pretendia festejar com toda a pompa seus dez anos no Brasil, a Kroll Associates, maior agência de investigações do mundo, está sendo acusada de espionar membros do governo numa guerra envolvendo empresários que disputam o controle de uma empresa de telecomunicações, a Brasil Telecom.

Na semana passada, no auge do escândalo, clientes, ministros, secretários da República, começaram a receber convites para a comemoração em São Paulo. Nele, Jules Kroll, o dono da empresa americana, Eduardo Sampaio, presidente no Brasil e outros três diretores convidavam a todos para conhecer “o crescimento e a história da Kroll no Brasil”. A data: 10 de agosto, 19 horas. Local: Espaço Rosa Rosarum, casa de festas estrelada, onde o aluguel do maior salão custa R$ 4,5 mil e um jantar assinado pelo chef francês Christophe Besse vale R$ 100 por cabeça, sem contar bebidas alcoólicas.

Em Brasília, o convite provocou frisson. Foi parar até no Diário Vermelho, serviço de notícias do PC do B na internet. Num artigo indignado, datado do dia 27, os comunistas ironizavam se a Kroll aproveitaria a oportunidade “para explicar tudo o que andam fazendo no Brasil e pelo mundo afora”. A Kroll não teve alternativa e contabilizou mais um vexame à sua conta, já bastante volumosa. Teve de desconvidar todo mundo, por email. A justificativa de que a festa seria cancelada por conta de compromissos assumidos por Jules Kroll, que não poderia vir ao País na data prevista. A visita foi adiada e, talvez, o presidente venha em outubro.

Fundada em 1972 nos Estados Unidos, a Kroll chegou ao Brasil em 1994 para rastrear as contas de Paulo César Farias, o tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Na época exibia em seu portfólio a solução de casos famosos como o rastreamento das movimentações milionárias de Saddam Hussein e de Ferdinand Marcos, ex-ditador filipino. No entanto, desde que foi contratada pela Brasil Telecom para espionar a Telecom Italia, a Kroll tem tido muito pouco o que comemorar. Espionou ilegalmente dois membros de alto escalão do governo federal e um de seus funcionários que agiram no caso foi parar na cadeia.

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