Debandada geral

As forças políticas mudam de rumo ao sabor dos ventos, como birutas. Melhor dizendo: mudam conforme seus interesses mediatos e imediatos. Não existem partidos políticos estruturados, com ideologias e programas. Nem fidelidade partidária e história política que sedimente os grupos sob as mesmas legendas. A cada pleito os candidatos mudam de legendas, em busca das melhores oportunidades de se eleger. Não é incomum um político conservador aparecer como candidato de um partido populista. Ou de esquerda. Nem o inverso. Muitos dos nossos políticos seriam incapazes de definir os seus partidos, sabendo deles pouco mais que as legendas, que, para todos, pouco significam.

Há ou havia uma exceção, que era o PT, com história de lutas sindicais, de esquerda, socialista e relativamente democrático. No poder, ganhou a descoloração das demais agremiações.

Talvez isso explique matéria baseada em dados e opiniões vindas de Brasília, que dá conta da debandada. Os chamados aliados de Lula e do PT, mal chegou o segundo turno, começaram a debandar. Ou deixaram de apoiar os candidatos oficialmente situacionistas ou fazem corpo mole. Ficou claro que a chamada base situacionista não passa de um mal amalgamado grupo de deputados e senadores, pertencentes a diversos partidos, cujo pólo de atração para apoiar o governo foi somente o seu poder. Em alguns casos, como do PT e PL, nenhuma afinidade, nem mesmo coincidência. Naturalmente, deveriam ser adversários. Mas o interesse por repartir o poder os fez sócios, dividindo inclusive a Presidência da República e a vice.

O PMDB, que tem dois ministérios negociados durante muito tempo e a duras penas, passou a apoiar o governo. Um apoio um tanto frouxo. Acontece que a chamada base aliada e esses apoios, importantes como o do PMDB, ainda um grande partido, não se reproduziram nos estados e municípios, principalmente nestes, onde estamos na segunda e derradeira fase da campanha, no segundo turno.

A base aliada não está de mãos dadas com o governo e o PT e ainda, depois dos resultados do primeiro turno, ocorre uma revoada. É que a tal base aliada nunca passou de um frouxo acordo parlamentar, pontual porque reunido a cada vez em que alguma matéria de interesse do governo é votada. E, ainda aí, com defecções, inclusive no próprio PT.

Sem fidelidade partidária, deputados federais e estaduais e senadores, na maioria, não são confiáveis. Negociam seus apoios a cada oportunidade que se apresenta. E o governo, que sonha com a reeleição de Lula e considera estas eleições municipais mais que um ensaio, uma arrancada, ganhou em mais lugares que a oposição, mas tende a perder nas cidades essenciais, maiores, de mais numeroso eleitorado.

Pode-se dizer que o futuro de Lula, em termos de reeleição, está em São Paulo, a maior cidade do País, onde Marta Suplicy por enquanto parece perder para José Serra, que foi adversário do presidente no pleito para a chefia da nação. E o governo também não ganhou no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade brasileira. Haja o que houver quando forem abertas as urnas do segundo turno, Lula vai ter de rever suas frágeis bases políticas.

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