Questão de saúde!

Símbolo de Curitiba, capivara é hospedeira de carrapato vetor da febre maculosa. Perigo está nelas?

Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná.

Com 53 casos casos e oito mortes confirmadas pelo país até quarta-feira (14) pelo Ministério das Saúde, a febre maculosa aos poucos vem preocupando a população. O Paraná confirmou o primeiro caso da doença em 2023 nesta quarta e a Secretaria Estadual da Saúde logo emitiu uma nota de alerta, dizendo que monitora a doença no Estado. Símbolo de Curitiba, as capivaras são hospedeiras do vetor desta doença. Há risco?

A doença – que causa febre, dor muscular, dor de cabeça e náuseas – não é transmitida diretamente entre pessoas pelo contato. A febre maculosa é causada pela bactéria rickettsia, transmitida pela picada de carrapatos do gênero amblyomma. O quadro é agravado com náuseas e vômitos, diarreia e dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas. Nos casos mais graves, pode haver paralisia, começando nas pernas e subindo até os pulmões, causando parada respiratória. 

Pequeno e aparentemente inofensivo, o carrapato é um parasita bastante comum no Brasil. Em Curitiba, um símbolo da cidade é um dos principais hospedeiras do aracnídeo. As capivaras carregam carrapatos que podem portar a bactéria rickettsia. Os roedores, então, são um risco? Especialista esclarece.

O prefeito de Curitiba Rafael Greca, inclusive, deu um puxão de orelha em um homem que fez carinho em uma capivara no Parque Barigui e postou o vídeo nas redes. “Isso NUNCA se faz”, relembre aqui o esporro do prefeito.

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A reportagem da Tribuna do Paraná conversou com o professor titular de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) para desenvolver estratégias para o controle de carrapatos, Marcelo Beltrão Molento, que esclareceu as principais dúvidas da doença. Logo de cara, o professor respondeu: as capivaras NÂO são um risco.

“O mais importante é dar foco no risco sanitário do carrapato em si. Capivaras podem ter carrapatos, assim como cavalos, aves, cachorros, bovinos. Existe muito uma questão de especificidade”, esclarece o professor. Há várias espécies de carrapato, mas pelo menos quatro ou cinco do gênero amblyomma que podem hospedar a bactéria causadora da doença.

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Há também várias bactérias do gênero rickettsia, mas apenas uma espécie específica pode causar febre maculosa. “Em Curitiba temos várias espécies de carrapato, que também carregam a bactéria rickettsia, mas não foi encontrada a [bactéria] da espécie que causa a doença grave”, revela o especialista.

A febre maculosa é causada pela bactéria rickettsia, transmitida pela picada de carrapatos do gênero amblyomma. Foto: Reprodução/Ministério da Saúde.

Automedicação pode agravar a doença

Uma infecção por febre maculosa é como uma Loteria, mas ao contrário? Pode-se dizer que sim. Por isso, é preciso manter sempre o alerta da doença. “Andar a cavalo, visitar um parente no interior, numa fazenda, chácara. É importante fazer uma inspeção principalmente em crianças. Se encontrado um carrapato, que ele seja retirado o mais rapidamente possível”, recomenda Molento.

Nem todo carrapato carrega a bactéria vetor da doença. Mas, ao notar a picada, fique atento aos primeiros sintomas: febre, dor muscular, dor de cabeça, náuseas. A doença evolui rápido, em menos de uma semana pode levar a óbito se não tiver orientação médica adequada.

“O percentual de mortalidade é muito grande. Não estamos acostumados a ver isso em nenhuma outra bactéria. Chega a 51% ou mais em seres humanos. A capivara não apresenta letalidade, cavalos não morrem, cães podem adoecer. Mas eles não ficam nem de perto graves como os casos vistos em seres humanos” esclarece o especialista.

Ao notar os sintomas, a orientação mais importante de Marcelo Molento é evitar a automedicação. “É preciso alertar as pessoas para que não façam uso precoce de antibiótico sem orientação. O remédio pode mascarar a fase de incubação da bactéria e isso pode fazer com que a pessoa piore o quadro clínico”.

Como evitar?

Viajantes que vão passar as férias em estados que apresentem mais casos, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, precisam ficar atentas. Ao notar o carrapato na pele, ficar atento aos sintomas.

Em áreas gramadas, em parques pela cidade, que tenham cavalos ou até capivaras, é importante ficar de olho. “O risco é estar andando numa área onde a capivara esteja. Tomar sol no parque, perto de capivaras. O carrapato pode subir na pessoa. O problema não está na capivara, e sim no ambiente, que deve ser monitorado”.

Repelente poderia ajudar a evitar uma picada? O carrapato, apesar de comum, é um aracnídeo que não pode ser repelido com o uso de repelentes comerciais. Inseticidas e agentes químicos, controladores de pragas – apesar de num primeiro momento parecer ser uma boa solução, não ajudaria no combate a doença.

“Todo o controle exagerado promove uma seleção de carrapatos resistentes. Se não tiver mais ferramentas, como os acaricidas, que façam com que esse carrapato morra, teremos um problema gravíssimo. O ciclo do carrapato vai continuar. Temos que ficar atentos, muito atentos”, finaliza Molento.

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