Grana apertada!

Número de famílias endividadas tem maior valor dos últimos 12 anos; Dez dicas pra não cair em dívidas!

Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná.

As parcelas de famílias endividadas (com dívidas em atraso ou não) e inadimplentes (com dívidas e contas em atraso) atingiram os maiores valores em 12 anos, em abril deste ano, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Conforme os dados divulgados pela Agência Brasil, a pesquisa também aponta que o cartão de crédito é o principal motivo das dívidas. Entre as famílias endividadas, 88,8% têm dívidas com o cartão.

Os dados assustam e, por isso, a Tribuna foi atrás de dicas para ajudar as famílias a saírem do enrosco dos problemas financeiros de uma forma saudável. Quem conversou com a reportagem, em Curitiba, foi o professor coordenador dos cursos de finanças do ISAE Escola de Negócios, Pedro Salanek. Ele fez recomendações para o controle das finanças familiares e deu dicas de aplicativos financeiros que podem ajudar no planejamento 

Segundo o professor, o melhor negócio é sempre gastar menos do que se ganha. “É o básico. Mas muita gente se pergunta como fazer isso, com tanta alta de preços da gasolina, gás, alimentos. Mais ainda, a pandemia de coronavírus foi algo inédito deste período. Lá em 2010, que é de onde vem essa comparação de números para 2022, a semelhança são só os dados. Os motivos econômicos eram completamente diferentes”, explica Salanek.

Indo direto ao ponto, o professor dá dicas para os endividados e para quem não quer, de jeito nenhum, se endividar. “O primeiro passo é promover uma mudança de processos dentro de casa, como fazem as empresas quando precisam otimizar as produções. Tem que mexer na rotina, adorar uma forma que se torne natural com o tempo”, diz Salanek.

Recomendações pra fugir das dívidas:

Alterar a logística – Com o preço alto dos combustíveis, o transporte tem gerado gastos além do previsto. Uma forma de conter esse custo é analisar a logística da semana. “No domingo à noite, por exemplo, avalie os locais que dá ir e resolver vários assuntos com uma única visita. Veja quem vai de carona ou se o carro é mesmo necessário. Não parece, mas a logística bem feita faz diferença”, ressalta o professor.

Cartão de crédito não é financiamento – O grande vilão das dívidas costuma ser o valor dos juros do cartão de crédito. Se a pessoa deixa pra pagar apenas a parcela mínima, o resultado é a chamada “bola de neve” do endividamento. Salanek explica que os cartões de crédito são ferramentas de compras com a função de dar opção de data de pagamento fixa. A orientação é não usar de forma errada. “A pessoa tem que ter isso em mente. Há a facilidade de parcelamento de compras, mas não é empréstimo de dinheiro. É uma ferramenta de planejamento de pagamento. Usando da forma correta, o cartão pode auxiliar no planejamento financeiro. Se deixar acumular dívidas, aí vira vilão”, alerta.

Procure horários alternativos de lazer – Os horários nobres, como já se sabe, são os mais caros para atividades de lazer. Nesse caso, a dica do professor é: “não precisa parar de se divertir, mas busque datas e horários alternativos”. Isso vale para o cinema, por exemplo. “No fim de semana, é mais caro. Mas se a pessoa for em outros dias, pagará mais barato. São o mesmo cinema, as mesmas poltronas, o mesmo som, mesma pipoca e o melhor… É o mesmo filme. Pensar assim para qualquer outra atividade significa economia”, destaca Salanek.

Supermercado – Aqui, não há muita novidade. Para gastar menos, Salanek orienta a busca por alimentos substitutos que estejam mais em conta, fazer pesquisa de preço, comprar frutas e verduras de época entre outras práticas que o consumidor já conhece. “Porém, vale pensar na logística da semana. Almoçar em casa costuma sair mais em conta. De repente, se algum dia da semana for possível só sair de casa após o almoço, isso pode trazer economia”, diz.

Poupança – Vale aqui, de acordo com o professor, guardar um pouco do suado dinheirinho para realizar sonhos. Viagens, bens de consumo, até a compra de um celular novo requerem planejamento. “A pessoa pode fazer poupanças separadas para cada desejo que ela quer realizar. Lá no final, quando a hora chegar, o valor guardado será utilizado sem culpa. Só é preciso se organizar”, explica.

Planilhas – O controle financeiro pelo registro de ganhos e gastos deveria ser um hábito de todos. É com as chamadas planilhas que a pessoa vai enxergar se o barco da vida econômica vai bem ou se está prestes a afundar.  “O problema é que só de ouvir a palavra planilha a pessoa já se assusta, sente preguiça. Mas, hoje em dia, há vários aplicativos de celular que facilitam as anotações e controle financeiro”, aponta Salanek.

O professor destacou quatro apps que podem ajudar as famílias a se manterem firmes nas contas. Veja quais!

Mobills – É um dos mais populares, até por isso está no topo da lista de Salanek. “Ele ajuda nesse processo de educação financeira. Permite fazer a organização do seu planejamento, criar as metas e depois seguir acompanhando. Ele gera gráficos, gera relatórios, cria grupos de gastos como habitação, transporte, saúde. E faz a integração com o cartão de crédito, o que permite visualizar os pagamentos desses grupos criados, por exemplo”, destaca o professor.

Organizze – Esse aplicativo, segundo o professor, também é interessante, porém ele não possui tantas funcionalidades quanto o Mobills. “A interface também não é tão atrativa, mas acaba que isso é uma questão de gosto pessoal. A versão que é mais avançada é paga e tem mais funcionalidades que a gratuita”.

Minhas Economias – Esse é outro que é bem popular. Ele também gera gráficos, permite organizar o orçamento familiar por grupos e dá acesso a indicadores econômicos. “Poupança, dólar, CDI. Porém, como a versão é gratuita, aparecem vários anúncios de publicidade durante o uso. São esses anúncios que viabilizam a existência do aplicativo”, explica Salanek.

Guiabolso – É também popular. Faz a sincronização automática de conta bancária, do cartão de crédito para se ter controle dos gastos. “Tem essa facilidade de não ter que ficar digitando os valores, por causa da sincronização”, informa o professor.

Salanek finaliza dizendo que os aplicativos ajudam, que as pessoas podem se adaptar, mas o que fará diferença na vida financeira é a mudança de processos. “Esse hábito de se planejar é que precisa ir se construindo. O quanto antes, melhor, pois os mecanismos de consumo não dependem mais da pessoa sair de casa com o dinheiro ou o cartão no bolso. Eles estão na palma da mão. É aquele velho ditado: não vá ao supermercado com fome”, brinca o professor.

Pesquisa CNC

Segundo os dados publicados pela Agência Brasil, na última segunda-feira (2), o percentual de endividados chegou a 77,7% em abril, o maior nível desde o início da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (Peic), da CNC, em janeiro de 2010. Em abril de 2021, as famílias com dívidas eram 67,5%. Em março deste ano, eram 77,5%.

Já o percentual de inadimplentes chegou a 28,6%, o segundo maior nível da pesquisa, ficando abaixo apenas da taxa de janeiro de 2010 (29,1%). Em março deste ano, a parcela era de 27,8%, enquanto em abril de 2021 chegava a 24,2% (4,4 pontos percentuais abaixo do registrado em abril deste ano).

As famílias que não terão condições de pagar suas dívidas chegaram a 10,9% em abril deste ano, acima dos 10,8% do mês anterior e dos 10,4% de abril do ano passado. Essa também é a taxa mais alta desde julho de 2021, quando foram registrados os mesmos 10,9%.

O tempo de comprometimento com as dívidas ficou em 7,1 meses, abaixo dos 7,2 meses de março, mas acima dos 6,8 meses de abril de 2021.

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