Cadê a prefeitura?

Moradores querem o fim da “rua do lixo” na RMC; até quando vai o descaso?

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Já imaginou ter que pagar IPTU em dia e receber em troca infraestrutura péssima? Morar em um bairro com quedas constantes de luz e falta de água recorrente, animais abandonados, ruas não asfaltadas e lixo jogado pela via? É isso que alguns moradores de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), têm enfrentado.

A primeira reclamação é de uma rua que virou praticamente um lixão a céu aberto. Ela fica na divisa entre dois municípios da RMC. Do lado de São José dos Pinhais, a Rua Atílio Pedão é asfaltada e conservada. Já do lado de Piraquara, a via, que não é asfaltada, virou uma espécie de depósito de lixo e de abandono de cachorros.

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Trecho quase diário do motorista Marcelo Silva, ele reclama da quantidade de lixo no pedaço da via em que começa o território de Piraquara. “É um depósito de lixo do que você imaginar: desde entulho, animal morto, lixo orgânico, lixo reciclado, sofá, cama, colchão, pneu, carro desmontado. De tudo. A prefeitura ao invés de pegar e fazer uma limpeza ali no local, eles não fazem nada”, afirma.

Outra situação apontada pelo motorista é o abandono de cachorros na região. De acordo com ele, essa situação é constante e já virou uma bagunça. “O pessoal abandona cachorro ali. Esses dias tinha uns 20 cachorrinhos filhotes”.

Somado ao depósito de entulhos e abandono dos animais, Silva também comenta que a poeira atrapalha os moradores da região. “É muito pó, passa caminhão toda hora, além dos carros que transitam entre São José dos Pinhais e Piraquara, que vão para o Jardim dos Estados e para outros bairros ali próximos. Volta e meia eles (prefeitura) estão passando a máquina, uma coisa que não resolve. Poderiam fazer um asfalto, um calçamento”. Ele ainda acrescenta que quando as equipes passam a máquina para arrumar a estrada, o lixo é misturado com a terra.

Reclamações e mais reclamações, sem retorno

Cansado de todos esses problemas, Silva assegura que já ligou diversas vezes para a Prefeitura de Piraquara, mas nunca teve um retorno sobre as reclamações ou recebeu qualquer número de protocolo. “Em uma das reclamações, a pessoa da prefeitura teve a capacidade de me dizer que eles têm placas lá dizendo que é proibido jogar lixo e que se eu quisesse, eu poderia ir até lá, pegar essa placa e colocar na estrada. Eu não tenho nada a ver com estradas, simplesmente transito e vejo a bagunça e o desleixo da prefeitura”.

Os problemas das pessoas que moram perto da Rua Atílio Pedão estão longe de ser apenas esses relacionados à via. Silva explica que um pouco adiante da rua fica o bairro Jardim dos Estados l. De acordo com ele, nesse local, a lista de problemas é enorme: falta água e luz com frequência, o transporte coletivo não passa pelas ruas internas do bairro e a manutenção nas áreas verdes é rara.

“Tem gente que precisa andar 1,5 km para poder pegar o ônibus. Dia sim, dia não falta água. Toda semana tem queda de energia. Ai se você for para o Centro de Piraquara, é tudo lindo, maravilhoso, asfalto e calçadas novas. Mas ali (Jardim dos Estados) é abandonado”, desabafa.

“É um bairro esquecido”: moradores da Grande Curitiba se sentem abandonados

O relato de Silva é confirmado por Juliana Vieira Pereira, moradora do Jardim dos Estados há 11 anos. Ela diz que a prefeitura asfaltou três ruas do bairro. “Saiu a verba para asfaltar o restante das ruas aqui e até agora nada. A gente fez um abaixo-assinado sobre o asfalto da rua, porque tinha saído a verba e eles estavam jogando para outros bairros”, revela.

De acordo com Juliana, o documento foi entregue para a prefeitura há cerca de quatro meses, mas até agora os habitantes do Jardim dos Estados não tiveram nenhuma novidade.

Para a moradora, o asfalto significa mais qualidade de vida, pois ela tem uma filha pequena que tem um problema no pulmão. “Por que asfaltam só algumas ruas e deixam outras para trás? A gente sofre muito com pó, poeira. Na minha filha vive dando pneumonia. Então a gente precisa ter muito cuidado com a poeira”, conta.

Juliana vende kits de festa e frango assado aos domingos. A constante escassez de água e luz atrapalha a produção dos alimentos. “Afeta bastante o trabalho, principalmente a falta de luz. A água também, claro, porque a gente não consegue lavar as coisas. Aqui na nossa região sempre caiu luz, mas ultimamente está demais. No dia em que teve um temporal demorou um dia e meio para voltar”, desabafa.

Prejuízo nos negócios

Quem também tem prejuízo nos negócios por conta dos problemas do bairro é Camila Pinto Marques de Oliveira, proprietária de uma panificadora na Avenida Goiás. “No Jardim dos Estados tem bastante ruas que não são asfaltadas. Queda de luz eu falo que é um festival, toda semana tem que acabar. Ai quando acaba a luz, acaba a água também e até voltar é um Deus nos acuda”, reclama.

Por conta da inconstância da energia e da água e como depende muito do funcionamento regular desses serviços, Camila relata que no último mês teve um prejuízo de R$ 7 mil. “Na última vez que acabou luz, eu não vendi nada no sábado e no domingo consegui começar a funcionar umas 11 horas. Eu perdi sorvete, pão, sobremesa e minha venda, que eram os melhores dias para vender”.

A empreendedora explica que somente na soma de um dia e meio teve um prejuízo de R$ 3,5 mil. Além disso, precisou jogar fora 600 pães que estavam na esteira para assar.

O abandono dos cachorros é outro problema para Camila e para a clientela dela. Segundo ela, na esquina da panificadora é comum a reunião de aproximadamente dez animais. Alguns deles atacam os pedestres e assustam quem está na região. “Algumas pessoas que eram minhas clientes dizem que não vão mais (na panificadora) por medo dos cachorros”.

Camila está desanimada com todos os problemas e espera uma solução urgente. “Estamos com a panificadora há um ano e pouco. A vontade é de desistir do ponto por causa dessas quedas de luz e dos cachorros também”, completa.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

O que diz a prefeitura

Asfalto

Por meio de nota, a Prefeitura de Piraquara afirma que realiza um programa de pavimentação e segue trabalhando para conseguir recursos e pavimentar mais ruas da região.

“Informamos que a Prefeitura de Piraquara executa nos últimos anos um amplo Programa de Pavimentação, mas que devido à grande extensão territorial ainda não dispõe de capacidade para asfaltar todos os bairros 100%. Importante salientar, que nos últimos anos foram as asfaltas as ruas Heitor Pallu, as avenidas Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, além da ligação entre as duas vias por meio da Rua Goiás, no bairro”, diz nota.

Ônibus

Sobre as reclamações dos ônibus, a prefeitura explica que quem administra o transporte público do município é a Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (Amep), responsável por organizar as linhas de acordo com a demanda e viabilidade de cada bairro.

“Quando formalizado algum pedido de mudança ou ampliação para a Prefeitura de Piraquara eles são encaminhados para o órgão estadual”.

Falta de água e luz

No município, a Copel é responsável pelo serviço de luz e a Sanepar pelo fornecimento de água. A prefeitura revelou que tem conhecimento da situação e que realizou uma reunião com equipe técnica da Sanepar para expor o problema.

“Na última semana, após pedido por providências da Administração Municipal, uma equipe técnica da Sanepar esteve na Prefeitura de Piraquara para esclarecer os motivos da falta recorrente de água que além de atingir a população, comprometia o funcionamento de alguns serviços públicos principalmente nas Escolas Municipais, CMEIs e Unidades da Saúde”.

Também procurada pela Tribuna do Paraná, a Sanepar confirmou que ocorreram alguns rompimentos de rede naquela região, o que pode ter causado a falta de água ou baixa pressão na rede. Entretanto, a Sanepar alega que não está recebendo a reclamação dos moradores sobre falta de água.

“É importante que os moradores façam esse registro formalmente no 0800 200 0115, no WhatsApp 41 99544-0115 ou por email atendimentoaocliente@sanepar.com.br, ou mesmo no site, na área de Clientes, para que uma equipe possa fazer a verificação em campo a partir dessas reclamações”, orienta.

A reportagem da Tribuna do Paraná também questionou a prefeitura de Piraquara a respeito do abandono dos cães e do lixo, mas não obteve uma resposta até o fechamento da matéria.

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