"Boiando na água"

Moradores do Caximba protestam contra enchentes no bairro

Parte da comunidade do bairro Caximba, na região sul de Curitiba, trocou ontem a festa junina da Igreja São João Batista por uma manifestação de protesto. O Rio Barigui transbordou devido ao grande volume de chuva dos últimos dias e atingiu casas de uma área de ocupação irregular nas margens. Revoltados com a situação, que é recorrente no local, os moradores protestaram com cartazes, palavras de ordem e interrompendo o tráfego na ponte da Rua Francisca Beraldo Paolini, que passa sobre o rio.

Para impedir a passagem dos automóveis, populares atearam fogo em lixo e pneus. “Queremos moradia digna. No domingo isso aqui virou um lago. Saímos de casa com água pelo pescoço. Não estamos aqui porque queremos, mas porque precisamos e não temos outro lugar para ir. Todo o Brasil está protestando e nós também estamos exigindo nossos direitos de forma pacífica, sem fazer mal a ninguém”, disse o carpinteiro Willian Marcos Costa, que mora há dois anos na beira do Rio Barigui.

A pista ficou interrompida por cerca de 40 minutos, até a chegada da polícia. De forma pacífica, os manifestantes apagaram o fogo e se dirigiram para frente da igreja. “Estamos cansados de esperar pela realocação. Queremos ser recebidos pelo secretário da Habitação. Durante a campanha vieram aqui fazer promessas, mas continua tudo igual. Ontem havia crianças boiando no meio do esgoto. Desse jeito, elas vão crescer rebeldes e virar bandidos, por culpa dos governantes”, afirmou a cabeleireira Maria Gonçalves, uma das organizadoras do ato.

A situação ficou mais crítica no domingo, quando algumas casas foram quase totalmente submersas pela água. Segundo os moradores, ontem ainda havia muitos pontos de alagamento e muitas residências estavam completamente tomadas pela lama.

15 mil fora de casa

As chuvas contínuas que atingem o Paraná desde quinta-feira afetaram 63.864 pessoas em 32 municípios por conta de alagamentos, inundações, deslizamentos e enxurradas. Segundo a Defesa Civil Estadual, 15.938 tiveram que sair de suas casas e ficaram em residências de familiares e amigos, das quais 15.062 permaneciam desalojadas. Outras 825 foram levadas a abrigos públicos nos últimos dias, mas 175 ainda estavam desabrigadas. A Defesa Civil contabilizou 6.645 residências danificadas e quatro destruídas. O Simepar prevê alto volume de chuvas hoje, com temperaturas amenas.

Veja na galeria de fotos o protesto.