Missa de sétimo dia

Mário Nery era um fotógrafo de mão cheia

Um profissional de mão cheia e que transitava entre as mais variadas pautas. Assim se divertem os amigos de Mário Fernandes Nery, explicando como era o ofício do parceiro com o qual, por anos, dividiram o ambiente de trabalho. O fotógrafo profissional acumulou, na carreira, a cobertura de batizados, casamentos, discursos políticos e festas.

Mas foi em um dos eventos que Nery se tornou lenda: era o responsável pela organização e pelas fotos do concurso Bem Bolada, que sempre acontecia durante o baile de mesmo nome, realizado todos os domingos de carnaval (de 1970 a 2010). O evento premiava a mais bela moça das boates de Curitiba, Região Metropolitana e litoral.

A festa se tornou consagrada nas décadas de 70 e 80 e caiu nas graças da sociedade curitibana. Tão disputado quanto era o desfile prévio. “Uma semana antes do concurso, nós organizávamos um coquetel para apresentação das meninas e acerto dos detalhes para liberação do alvará. Mostrávamos pra Polícia Federal (órgão responsável pela liberação do documento) como funcionaria e assim estava tudo certo”, ri o jornalista Osvaldo Tavares de Mello, o Vadico, ex-diretor da Tribuna, onde Nery também trabalhou.

O Baile das Bem Boladas teve como sede a Sociedade Batel por muitos anos e só teve o local alterado por outros com maior capacidade de público. Mário Nery, defensor ferrenho do carnaval curitibano, é lembrado como bem-humorado e bom amigo. “Não havia uma pessoa sequer que não gostasse dele. Era companheiro e sempre solícito. Quem falar que se lembra dele triste ou bravo está mentindo”, afirma Vadico.

Boas excursões e lembranças

Viajado foi Mário Nery, que pôde conhecer outros países graças à fotografia. Em excursões da terceira idade, era ele quem sempre acompanhava os grupos e registrava todos os momentos, sendo o responsável por todo o material fotográfico mantido até hoje por amigos e conhecidos. “Ele era muito grato por isso. Foi a profissão que o levou a vários lugares. Sempre que iam fazer alguma viagem mais longa, chamavam o Nery”, lembra o amigo e ex-colega de trabalho Hamilton Brüschz, editor de fotografia da Tribuna do Paraná.

Mário Nery só deixou de ser fotógrafo profissional de turismo com a chegada dos filhos. Mas, como empreendedor que era, abriu uma loja de fotolitos (filmes fotográficos) em parceria com Brüschz. Funcionou de 1997 a 2007 na Rua Brasílio Itiberê. Mesmo tocando a empresa, arranjava tempo para fotografar casamentos e cerimônias de amigos com maestria.

Há poucos meses, Nery descobriu que estava com câncer na medula. Segundo os amigos, a situação se agravou severamente em um período de 15 dias. Mario Fernandes Nery faleceu na última quinta-feira (11). A missa de sétimo dia acontece hoje, às 18h30, na Igreja do Senhor Bom Jesus dos Perdões, Praça Rui Barbosa.