Luta antirracista

Marcha do Orgulho Crespo é incluída no calendário oficial de Curitiba

Foto: Pixabay.

Nesta segunda-feira (06), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou em primeiro turno a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial da capital do Paraná. Foram 24 votos favoráveis à proposta, apresentada pela ex-vereadora Carol Dartora (PT), que depois ganhou a coautoria de Giorgia Prates – Mandata Preta (PT) e de Professora Josete (PT). O projeto de lei estabelece o dia 12 de novembro como referência para a realização da Marcha do Orgulho Crespo, prevendo que ela acontecerá em paralelo a atividades culturais. Apenas Eder Borges (PP) votou contra.

Movimento social originado na cidade de São Paulo, a Marcha do Orgulho Crespo acontece em Curitiba desde 2016 e só foi interrompida em 2020 e 2021, por conta da pandemia da covid-19. A ação começou em resposta a uma situação de discriminação vivida pela cantora Michele Mara, no comércio da rua XV de Novembro, quando ela foi impedida de experimentar um turbante pela dona do estabelecimento que disse: “o seu cabelo vai estragar o meu produto”. Durante a sessão desta segunda, Giorgia Prates trouxe um vídeo de Mara, no qual ela relatou o ocorrido e a construção dessa luta antirrascista.

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“O dia de hoje é fundamental para visibilizar um problema social que a gente ainda enfrenta, que é o racismo. Que toda a cidade possa prestigiar esse dia, essa marcha, que tem também atividades culturais”, comemorou Carol Dartora, que veio para Curitiba prestigiar a votação do projeto de lei. Na sua fala, lembrou um caso pessoal, de quando foi vítima de discriminação no primeiro dia de emprego, para exemplificar a importância de ações afirmativas para superar a “subjetividade do racismo [estrutural]”. A deputada federal também pediu apoio financeiro à marcha, com a destinação de emendas parlamentares para o ato.

Com elogios à gestão Rafael Greca pelo apoio a pautas antirracistas em Curitiba, Giorgia Prates destacou a articulação com o líder do governo, Tico Kuzma (PSD), e com Herivelto Oliveira (Cidadania) para a construção de um Parque da África na cidade. “É importante a gente falar sobre como lutamos diariamente para mudar o que ficou sobre nós do período escravocrata”, destacou a parlamentar, que exaltou a Marcha do Orgulho Crespo como um “espaço onde o povo negro pode reafirmar sua identidade”. Ela também comentou que a desvalorização do cabelo crespo, forçando jovens negras e negros a se encaixarem em padrões que não são seus, “leva ao sofrimento e à depressão”.

“Talvez não seja possível para os não-negros entenderem a questão do cabelo. Eu nasci nos anos 1970 e era difícil ver as mulheres usando o cabelo natural. Hoje em dia é uma vitória para os negros, que foi conquistada ao longo dos anos”, disse Herivelto Oliveira, endossando as falas anteriores, sobre a importância do evento. “O racismo é estrutural no país e em Curitiba não é diferente. Ainda precisamos superar a exclusão da população negra”, destacou Professora Josete. Tito Zeglin (PDT), Tico Kuzma, Serginho do Posto (União), Dalton Borba (PDT) e Angelo Vanhoni (PT) elogiaram a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial.

Também acompanharam a votação, no Palácio Rio Branco, Amanda Mendes (da coordenação da Marcha do Orgulho Crespo), Romulo Pimenta Costa, Claudia Nunes (Projeto Crespura), Nicole Oliveira (Coletivo Enegrescer), Luís Melão (MDB Afro), Gustavo Tresco e Lucas Corrêa, ambos assessores parlamentares da deputada Carol Dartora. Indiara Barbosa (Novo) e Amália Tortato (Novo) se abstiveram, mantendo o posicionamento da bancada, que é de não votar na criação de datas comemorativas.

Nesta terça-feira (7), o projeto de lei volta à pauta para deliberação em segundo turno (005.00193.2022 com a emenda 034.00101.2023).

Eder Borges vota contra inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário de Curitiba

Único parlamentar a votar contra a inclusão da Marcha do Orgulho Crespo no calendário oficial de Curitiba, Eder Borges disse: “a impressão que eu tenho é que o intuito da marcha não é celebrar a cultura africana, tampouco conscientização verdadeira contra o racismo, mas que se trata de uma manifestação contra brancos, contra a honra de Curitiba e contra cristãos”. Ele vinculou a atividade ao Partido dos Trabalhadores, queixou-se de ser acusado de racismo e disse que historicamente houve mais escravização de povos africanos por árabes que por europeus, vinculando esse debate ao confronto entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza.

“É muito grave acusar alguém de um crime, não tem nenhum criminoso aqui. Em casos pontuais de racismo, como o que vimos no posto de gasolina, onde um idiota envergonhou a nossa cidade, isso foi repudiado por vereadores e parlamentares de todas as matizes ideológicas. Casos pontuais devem ser repudiados”, disse Eder Borges. Para ilustrar seu ponto de vista, perguntou se deveria organizar uma Marcha do Orgulho Calvo: “vou ficar em depressão porque me chamaram de careca?”. O vereador disse que “existe uma cultura de demonização dos brancos” e que “não se combate racismo com mais racismo”.

“Curitiba tem muito racista. Será que você não consegue enxergar a estrutura racista?”, disse o vereador Angelo Vanhoni, ao fazer o contraponto à fala de Borges. “Quando o Eder fala que tal coisa é partido político, tal coisa é ideologia, eu fico me perguntando a quem interessa falsear a verdade? Às vezes quem fala contra o ódio está fazendo exatamente o contrário, está disseminando o ódio”, acusou.

Giorgia Prates disse que não entendeu “metade do que ele disse”, por isso não discutiria com Borges. Dalton Borba apontou que, diante da aprovação do projeto pela “maciça maioria”, o registro de apenas um voto era “insignificante”.

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