Problema antigo

Enchentes fazem moradores do Rebouças criarem soluções inusitadas contra alagamentos

Apesar de o problema ser antigo, enchente do último sábado foi uma das piores dos últimos tempos. Foto: Marcos Xavier Vicente/Gazeta do Povo

Cada chuva que cai é motivo de muita preocupação na Rua Almirante Gonçalves, no bairro Rebouças. Desde o fim da década de 1990, o bairro , vizinho do Centro de Curitiba, sofre com enchentes , forçando moradores e comerciantes a instalar placas de ferro na frente dos imóveis – verdadeiras barricadas – para tentar conter a entrada da água. Na enchente do último sábado (3), que atingiu 1,5 mil pessoas na capital e região metropolitana, a água chegou a 1,5 m de altura e um carro e duas motos ficaram boiando na quadra entre as ruas Marechal Floriano Peixoto e a Desembargador Westphalen.

A professora Lilian Sourient, 58 anos, é uma das moradoras da Rua Almirante Gonçalves que sofre há anos com o problema de alagamento. Tanto que assim que ela escuta o barulho da chuva, já corre até a janela para ver se a água está subindo. “Se a água estiver chegando até um determinado ponto da rua, eu já sei que vai chegar na minha casa. Então, chamo a família e saímos bloquear nosso portão com a barra de ferro”, diz. A rotina de luta contra o volume de água é a mesma em qualquer horário. “Pode ser de madrugada. Temos que acordar para fazer isso e evitar que a água entre”, relata.

Outro morador, Ricardo Granemann, 33 anos, também possui uma estrutura de ferro preparada para os dias de chuva. Proprietário de um estacionamento na rua, ele mandou fazer a placa com 15 milímetros de espessura, um 1,5 m de altura e quatro estacas de trilhos de trem para proteger o estabelecimento. “Sábado a água subiu cerca de um 1,20 m aqui na rua. Faltou pouco para ultrapassasse a altura da placa de ferro e começasse a entrar”, enfatiza Granemann.

Edison Luiz Rocha, 46 anos, que trabalha e estava no estacionamento, afirma que, além de fechar a barreira do portão para evitar a entrada de água, teve também de afastar a caçamba de lixo que, assim como o carro que entrou na rua, boiava na inundação. “Era tanta água que tinha um redemoinho em cima do bueiro. A água quase bateu no nosso portão e, logo depois, outra lixeira presa no concreto da calçada também se soltou”, recorda.

Com a força da água, a placa de contenção em frente a um restaurante não foi suficiente e causou muito transtorno. “Entrou tanta água que todos os funcionários tiveram que chegar três horas mais cedo segunda-feira para limpar tudo”, conta o garçom Robledo Oliveira, 18 anos. O prejuízo do restaurante só não foi maior porque a gerência do restaurante já sabe que a qualquer chuva mais forte a rua alaga. “A sorte é que os produtos e panelas do restaurante estavam guardados no alto porque o local já tinha alagado outras vezes”, complementa.

Barreira para tentar conter água em comércio da Rua Almirante Gonçalves: há quase 20 anos endereço sofre com enchentes. Foto: Aniele Nascimento
Barreira para tentar conter água em comércio da Rua Almirante Gonçalves: há quase 20 anos endereço sofre com enchentes. Foto: Aniele Nascimento

Problema antigo

De acordo com a dona de casa Eliane Maria do Rocio, 60 anos, que mora na rua há mais de 30 anos, essa já é a segunda enchente apenas nos três primeiros meses de 2018. Já o número total de alagamentos, enfatiza ela, é impossível citar, de tantas ocorrências. “Mas me lembro com clareza da primeira situação de desespero, em 1999, quando a força da água derrubou um muro em cima da minha casa. Ficou tudo destruído, inclusive os carros do meu marido e da minha irmã”, lamenta.

O industriário aposentado Johanes Tschöke, 66 anos, já perdeu cinco carros na Rua Almirante Gonçalves no período apenas dois anos: 2010 e 2011. “Isso foi quando eu e meus filhos ainda estacionávamos na rua, o que não fazemos mais para não ter prejuízo”, afirma. Segundo ele, a água sobe muito rápido e quase cobre os veículos, o que causa muita correria entre os motoristas para tirar os carros da rua a cada chuva. “Se entrar água no carro, acaba com motor, parte elétrica, estofamento, tudo”, explica. O carro que boiou no alagamento de sábado na região, por exemplo, deu perda total da seguradora.

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/cic/triste-rotina/