Polêmica

Bisneto de Niemeyer diz que chorou ao ver fachada do MON com grafite de OSGEMEOS

A fachada do MON será o local onde OSGEMEOS deixarão sua arte marcada durante o período da exposição “Segredos: OSGEMEOS”. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Após a grafitada na fachada do Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, o bisneto do arquiteto Niemeyer, Paulo Niemeyer, se revoltou e criticou pelas redes sociais os artistas Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS. Dois cantos da fachada do MON foram pintados com a ajuda de um guindaste para divulgar a exposição dos artistas em Curitiba, que será aberta em 17 de setembro. Na crítica, o bisneto de Niemeyer disse que chegou a chorar.

“É com grande tristeza e revolta que vi o que esses dois fizeram na obra de meu avô Oscar Niemeyer. […] Agora o que esses 2 fizeram, além de mal gosto e horrível, degenera e agride os olhos e a alma. Principalmente a alma de quem tem na beleza e nos valores pela arte clássica e moderna, como é a de Oscar Niemeyer, uma admiração de quem vê uma Monalisa, ou um Da Vinci. […] Estou em prantos!!!”, diz o texto.

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A pintura da fachada do MON dividiu especialistas desde que a dupla de artistas OSGEMEOS grafitou o edifício. Uma enxurrada de pessoas acompanhou o processo com entusiasmo. Afinal, eles estavam de volta depois de um longo hiato sem uma arte dos irmãos paulistas em Curitiba, desde que sua última obra, na Praça 19 de Dezembro, foi pintada de azul em 2014 por um comitê político. No lugar da obra entrou a fachada do comitê de campanha eleitoral.

Mas alguns especialistas em arquitetura não viram com bons olhos a intervenção no museu projetado por Oscar Niemeyer e tombado desde 2012 como patrimônio cultural pelo estado do Paraná, como parte da paisagem do Centro Cívico.

Procurada pela reportagem para opinar sobre o caso, a arquiteta e especialista em patrimônio cultural Giceli Portela, que também é proprietária de uma casa de Vilanova Artigas em Curitiba e fundadora da especialização internacional em patrimônio e restauro da UTFPR, afirma que acha OSGEMEOS maravilhosos como artistas. Mas pondera: “Se fosse outro artista que aplicasse uma obra sobre a obra, todo mundo iria se ofender. A gente sempre respeita o autor original, nesse caso o Oscar Niemeyer. Mas como eles são notórios, as pessoas comemoraram. Mas não acho que a notoriedade dê esse direito. No entanto, segundo a teoria do restauro, toda intervenção é bem-vinda, pode ser alegre e festiva, desde que reversível e removível”, sentencia Giceli.

Por meio de nota, o MON garante que a obra em questão será removida após a exposição. “Como forma de divulgar a mostra ‘OSGEMEOS: Segredos’, realizada em parceria entre o Museu Oscar Niemeyer com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, que ocorrerá no principal espaço do museu (olho e dois andares de sua torre), os artistas realizaram uma intervenção artística de caráter reversível e temporário na fachada do edifício, onde costumam ser fixados banners com a programação da entidade desde sua fundação”, avisa a instituição de cultura.

Um especialista em patrimônio do governo federal ouvido pela reportagem em condição de anonimato defende que tivesse sido usada alguma superfície removível para respeitar a obra maior, que é o museu.

Já para a respeitada arquiteta Elisabete França, curitibana radicada em São Paulo que já foi diretora de Planejamento e Projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e que hoje leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), no curso de especialização em Planejamento e Gestão de Cidades do núcleo de estudos USP Cidades e no curso de especialização em Habitação e Cidade da Escola da Cidade, as obras arquitetônicas não são intocáveis. “Eu gostei do grafite. Se eles tivessem mudado a obra, com alguma intervenção física, seria outra história. Mas ela é passageira, apenas para marcar a exposição. É simpática”, opina. “É uma manifestação artística super usual.”

Em entrevista exclusiva para HAUS, da Gazeta do Povo, a diretora do MON, Juliana Vosnika, esclareceu que a obra não afeta a volumetria do edifício, não utiliza parafusos ou outros materiais que possam afetar a estrutura ou as características do projeto arquitetônico de Niemeyer. E lembra que a intervenção teve parecer favorável da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria da Comunicação Social e da Cultura do Paraná, que administra o patrimônio tombado no Estado do Paraná.

“É importante ressaltar que instituições do mundo inteiro fazem ações semelhantes para promoção dos espaços culturais e de novas mostras para o público que circula no entorno dos museus. Entre outras, OSGEMEOS já fizeram intervenção temporária na Tate Modern de Londres e na fachada do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que permanece até hoje dentro do Parque do Ibirapuera, também projetado por Oscar Niemeyer”, destaca Juliana.

“Como instituição viva e atuante nas áreas de arquitetura, design e artes visuais, o Museu Oscar Niemeyer pretende justamente manter a presença perante o público e honrar o legado do grande artista que lhe empresta seu nome, privilegiando o diálogo entre as mais diversas manifestações artísticas contemporâneas”, argumenta. “O museu é vivo, atuante, e honra o legado do Niemeyer”, finaliza.