Ciro, a bolha

Analistas afirmam e tudo indica que o crescimento da candidatura Ciro Gomes, chegando a encostar em Lula, foi uma bolha. E furou porque ele perdeu-se pela boca, risco que aqui mesmo, em editorial, apontamos. O homem fala demais, é muito empoado, fabrica frases pomposas de efeito e tem uma postura de reizinho que tende a inchar para explodir logo adiante. E o adiante parece que já chegou. O candidato da chamada Frente Trabalhista, conforme revelou José Serra, pondo no ar gravação de uma de suas entrevistas, não hesitou em chamar um eleitor de burro. E aproveitou a oportunidade para xingar os petistas, que entraram no credo como Pilatos. Esta não foi sua única atitude atrabiliária, pois antes tratou mal a imprensa em mais de uma ocasião, teve um incidente com um estudante universitário negro, fato interpretado como de discriminação, e interrompeu caminhadas por desagradar-se com o assédio popular. Aliás, isso aconteceu também aqui, em Curitiba, dias atrás. Ciro abandonou a passeata e o senador Alvaro Dias, tomou um táxi e foi para o aeroporto, sem dizer tchau para ninguém.

Furou a bolha e Serra cresceu, em pelo menos uma pesquisa, empatando tecnicamente com o candidato cearense. Admita-se, também, que Serra tem aparecido melhor nos programas de tevê, melhor concebidos, organizados e editados. A reação de Ciro Gomes à divulgação de sua imagem insultando um eleitor e os petistas foi ir à Justiça Eleitoral. Esta proibiu a repetição do uso da imagem de Ciro no programa do candidato situacionista. Repicando, Ciro nada disse e nada explicou, apenas falando em coisas editadas, sem nenhuma prova de que não era ele mesmo o xingador da TV.

Quem parece estar muito contente com isso tudo é Lula. A cúpula de sua campanha saudou o ocorrido como uma oportunidade de, pelo menos por mais uma quinzena, ele poder dispensar mais tempo para expor suas idéias e programas, sem preocupação com ataques que pudessem lhe ser dirigidos. Ele, de sua parte, promete que a ninguém atacará. E criticou a Justiça Eleitoral por condenar Serra ao silêncio sobre as malcriações de Ciro.

A briga está entre Serra e Ciro e não vão parar por aqui, pois já revelou que resulta em crescimento do candidato situacionista e queda do trabalhista. Lula, que continua no primeiro lugar nas pesquisas e vem conquistando apoios os mais variados, de Quércia a José Sarney, é candidato certo para o segundo turno. Ele e o PT preferem disputar, então, com José Serra, num embate que seria de oposição versus governo. Lula e o PT sempre vestiram a camiseta da oposição, enquanto Serra, mesmo dizendo que discorda aqui e ali do governo, é evidentemente um situacionista. Na hipótese de Ciro e Lula no segundo turno, os debates seriam entre oposição e oposição. E aquele procura colocar, junto ao eleitorado, com a empáfia que lhe é peculiar, sua condição de político que já foi isso e aquilo, tem experiência administrativa e uma porção de diplomas. Já Lula, só é doutor em povo. Nessa hipótese, muito provavelmente FHC apoiaria Lula. Aliás, isso é mais do que provável, pois o atual presidente já declarou que ficará com o candidato do PT.

O governo não está lutando para evitar a vitória final de Lula. Quer, sim, a vitória de José Serra, abomina a idéia de vitória de Ciro Gomes e aceita a subida ao poder do líder petista, se não como a melhor solução, pelo menos como a menos pior, no caso de inviabilidade da vitória do candidato situacionista. Mas os programas da Justiça Eleitoral e debates ainda não terminaram. Muita água ainda vai passar debaixo da ponte e tudo pode mudar.

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