Capital das “magrelas” abandonadas

No final dos anos 80, Curitiba se orgulhava de ser considerada a “Capital Ecológica”. Numa combinação de grandes áreas verdes e os parques da cidade, nasceu a idéia de ligá-los através de ciclovias. Perfeita opção de seus mandatários de plantão!

Afinal, o transporte coletivo em uma capital dita ecológica deveria abrir opções para esse tipo de transporte alternativo. À época, foi lançada uma campanha na qual as empresas adquiriam as bicicletas, as conhecidas “magrelas”, com valores menores do que os praticados pelo mercado. Valores estes divididos em dez vezes e descontados em folha de pagamento, para incentivar os funcionários a utilizar essa opção diferenciada, fazendo o link entre a economia dos recursos gastos com transporte de massa e o benefício ao meio ambiente, pois a bicicleta não produz impacto ambiental.

Para colocar em prática essas “estradas exclusivas” para bikes, muitas cerimônias oficiais foram realizadas, sempre com a presença do alcaide de plantão, com pompa e circunstância, quando eram novidade. Depois, as inaugurações foram perdendo espaço e hoje, mais de doze anos após o primeiro pedaço de asfalto montado exclusivamente para os ciclistas, mais de 100 km foram abertos, ligando bairros da cidade e os principais parques da capital paranaense.

Mas lá se vão mais de doze anos e uma pergunta fica no ar: por que nesse período se gastou tão pouco com a manutenção desses equipamentos? Se eles são úteis para manter a fama de capital ecológica, mais ainda agora que o slogan partiu para o de Capital Social. Afinal, ao pedalar, o cidadão vai dar um empurrãozinho na saúde pública, ajudando a própria, aprimorando seu condicionamento físico e melhorando assim a qualidade de vida.

O que mais intriga a este singelo jornalista, é encontrar uma resposta para o abandono do projeto das ciclovias. Afinal de contas, hoje em dia, está praticamente impossível utilizar esses pontos onde se pode praticar o ciclismo (mesmo o de lazer), uma vez que a “marginália” tomou conta de tais espaços.

Onde se gasta mais? Na manutenção e incentivo da utilização de ciclovias ou na construção de vias para o transporte coletivo, com a participação da empreiteiras?

Outra pergunta que fica no ar: por que é proibido pedalar nas canaletas?

Não seria mais fácil abrir esse espaço para ciclistas?

Para nossas autoridades de trânsito não. Pelo menos foi isso que ocorreu no ano passado, quando lançaram uma campanha para tirar os ciclistas das canaletas exclusivas para os ônibus.

Mas parece que o lobby do transporte coletivo é muito mais forte do que as pessoas simples, que têm como único veículo uma bicicleta e dele dependem para economizar o preço absurdo da passagem de ônibus cobrada na “capital social”.

Márcio Rodrigues (esportes@parana-online.com.br) é editor-adjunto da editoria de esporte de O Estado.

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