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SP: sem-teto toma até simulador de voo ao ocupar prédio

Eles nunca voaram de avião. Mas há 20 dias “ganharam” um simulador de aeronave, em tamanho real, ao invadir um prédio da Vasp – companhia aérea falida há 8 anos – na Vila Congonhas, zona sul de São Paulo. Em outubro, o local foi tomado por 50 pessoas do Movimento Popular de Luta por Moradia (MPLM), grupo criado há 3 anos. Uma faixa com o nome do movimento divide a fachada com a placa enferrujada da Vasp.

No terreno abandonado há pelo menos 12 anos – segundo moradores do bairro -, o simulador de avião permanece intacto em um dos cinco prédios da área. No local, próximo do Aeroporto de Congonhas, funcionou a escola de treinamento da empresa.

Empoeirado, com seis poltronas e papéis espalhados pelo chão – entre eles um manual com orientações de emergência datado de 1981 -, o simulador de avião virou playground do grupo. Os invasores se divertem com os documentos e gostam da ideia de ter ao alcance um avião de mentirinha. Além do galpão com o simulador, no centro do terreno, o prédio de entrada mantém ainda um pequeno teatro com cadeiras enfileiradas e poltronas no hall.

Um morador da região, que pediu para não ser identificado, queixou-se que o grupo quebrou a porta de vidro do prédio e colocou uma corrente com cadeado no portão. “É um perigo. Nosso medo é que invadam outros prédios.”

O pedreiro Fabio Silva, de 35 anos, e a cabeleireira Eidi Carolina de Macedo, de 22, se mudaram para o terreno da falida companhia aérea com o filho John, de 1 ano e 6 meses, alegando problemas financeiros. “Ou estaríamos em um albergue ou estaríamos na rua. Não tínhamos para onde ir. E lutamos para estar na ocupação. É disputado”, diz Silva.

Líder do MPLM, Ivan Santos, de 29 anos, explica que o grupo adotou como estratégia a invasão de prédios “com menos visibilidade do poder público”, como o da Vasp. “O nosso movimento nasceu na região central, mas quando a gente ocupa algum prédio lá no centro só fica três ou quatro meses e tem de sair. Sempre alguém perde as coisas na reintegração de posse. Então começamos a procurar prédios abandonados em bairros mais afastados”, afirma.

Outros 300 membros do movimento devem se mudar para o antigo prédio da Vasp no próximo dia 15. É a data marcada pela Justiça para a reintegração de posse do terreno do Hospital Maternidade Santa Marta, em Santo Amaro, ocupado há oito meses pelo MPLM. As 110 famílias dizem que sairão pacificamente e começaram a mudança para o terreno em Congonhas.

Vendido.

Em nota, a 1.ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo, responsável pela massa falida da Vasp, diz ter saber da invasão e que o imóvel já foi vendido. O novo dono não foi revelado.

“O arrematante ainda não recolheu as taxas necessárias à confecção da carta de arrematação. Tão logo isso ocorra, o documento será imediatamente confeccionado pela serventia, para que o arrematante exerça seus direitos na vias ordinárias, não competindo mais ao juízo falimentar deliberar sobre a questão, pois o bem já não mais integra o patrimônio da massa”, diz a 1.ª Vara. A Prefeitura não se manifestou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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