Roberto Jefferson volta ao tribunal

Recluso desde que teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) tem data e lugar para sua reaparição pública: 11 de novembro, em Mato Grosso. Em seu primeiro júri popular desde que voltou a advogar, ele aceitou atuar de graça como assistente da acusação no julgamento do empresário Vilmar Taffarel, acusado da morte da estudante Keila Alba, assassinada aos 12 anos, em novembro de 2001.

O crime aconteceu em Vera, município a 468 quilômetros ao norte de Cuiabá. "Foi um crime bárbaro, de uma insensibilidade brutal. Quero muito ajudar a família", disse o ex-deputado. Keila era filha do então vereador Augusto Alba (PPS) que, segundo as investigações, seria o verdadeiro alvo dos assassinos. O vereador era o maior opositor da então prefeita Isane Konerat (PSDB). As investigações concluíram que Vilmar, irmão da prefeita, foi o mentor do crime. Alba começou a pensar em Jefferson para assistente de acusação durante seus depoimentos na Comissão de Ética da Câmara e nas CPIs: "Fiquei impressionado com sua capacidade de argumentação. Vi que ele poderia me ajudar a condenar os assassinos de minha filha".

Aliado político do deputado federal Ricarte de Freitas (PTB) no norte de Mato Grosso, Alba pediu que ele intermediasse um contato com Jefferson. "Minha parte na história foi aproximar os dois. Fico feliz de saber que eles se acertaram", disse Freitas. Keila foi assassinada às 21h de 24 de novembro de 2001, em sua casa. O pistoleiro, Charles da Silva, de bermuda e camiseta, bateu à porta pedindo água. Depois de ouvir o pedido, Keila entrou e disse ao pai que estava com medo. Alba saiu e foi baleado, mas voltou agachado para casa. Um dos seis tiros disparados pelo assassino, que confessou o crime e aguarda preso o julgamento, atingiu o peito da garota. O crime já foi mostrado no programa "Linha Direta", da Rede Globo.

O crime estaria relacionado às denúncias que o vereador fazia contra a prefeita. Alba denunciava a contratação irregular de servidores temporários, fraude nas prestações de contas de obras financiadas pelo governo estadual e o excessivo uso de máquinas da Prefeitura por fazendeiros. O Ministério Público concluiu que, sentindo-se prejudicado, o irmão da prefeita contratou o pistoleiro. O caseiro Isaías Galdino e o empresário Tarcício Ribas Thielsen atuaram como intermediários, segundo o Ministério Público, e também estão denunciados. Apenas Thielsen aguarda em liberdade.

Reaparição

Considerado um grande advogado criminalista, antes de tornar-se um dos principais parlamentares no Congresso Nacional nos últimos 20 anos (era um dos deputados de maior destaque da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor, aliado do presidente Fernando Henrique Cardoso, e, posteriormente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), Roberto Jefferson, que foi presidente nacional do PTB após a morte do paranaense José Carlos Martinez, foi o único cassado na crise política deste ano.

A crise começou justamente com uma denúncia de corrupção nos Correios, em que seu nome esteve diretamente envolvido. Na tentativa de se defender, Jefferson decidiu revelar o esquema de compra de votos (chamado mensalão) e, com isso, aprofundou uma crise que derrubou o seu principal desafeto, o ex-ministro e deputado federal José Dirceu.

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