PT não reproduz base de apoio que elegeu Lula

Ninguém é de ninguém quando o assunto é aliança municipal. O fim do prazo eleitoral para registro das chapas das eleições deste ano mostrou a imensa dificuldade do PT de reproduzir, nos municípios, a aliança partidária que sustenta o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A esquerda continuou rachada na maioria das capitais, com exceção do PCdoB, parceiro histórico do PT. O partido do presidente ganhou, no entanto, apoios em capitais importantes, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, do PL e do PTB. Em alguns locais, o PT fez alianças inusitadas até com o PFL.

Embora não tenha ocorrido na maioria das capitais, o PMDB é o partido com o qual o PT tem mais alianças nos 5,5 mil municípios. Onde não foi possível aliança agora, a esperança é que isso aconteça no segundo turno.

?O PT nesta eleição foi muito maduro. Nem fomos para o vale-tudo, com qualquer tipo de acordo, nem ficamos isolados. Existem, no entanto, disputas históricas que não há como passar por cima?, diz o presidente do PT, José Genoino.

O partido apresentou candidato próprio em 23 das 26 capitais e candidatos a prefeito, vice ou chapa própria de vereadores em 5,3 mil municípios. Em 2000 foram apresentados candidatos em 2,3 mil municípios. Esse crescimento também veio acompanhado de alianças inusitadas, com partidos que hoje são oposição ao governo Lula. No Rio e Minas foram fechadas alianças com o PSDB e PDT. O PFL vai apoiar Lindberg Farias (PT) que concorre à prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).

Em Fortaleza também ocorre uma situação estranha. Nacionalmente o PT apóia a candidatura do deputado Inácio Arruda (PCdoB), mas o PT local insistiu em lançar a candidata Luizianne Lins com o respaldo do PSB.

?O PT de Fortaleza é uma exceção e irá pagar por isso?, afirmou Genoino. O mapa dos candidatos e das coligações partidárias nas capitais mostra que a realidade local pesou muito, dificultando a reprodução das alianças existentes hoje na base de apoio do governo federal. PPS e PSB optaram por candidaturas próprias ou por alianças mais interessantes para a realidade da política local. O PSB lançou 14 candidatos majoritários nas capitais. O PPS lançou 10 candidatos cabeças-de-chapa nas capitais. Nos dois partidos algumas candidaturas fortes, outras com poucas chances de vitória.

Reeleição

Dos 26 prefeitos que hoje comandam as capitais brasileiras, 12 tentam a reeleição: o de Natal (RN) Carlos Eduardo Novaes (PSB); o de Maceió, Alberto Sexta-feira (PSB); a prefeita de Tocantins, Nilmar Ruiz (PL); Teresa Jucá (PPS), de Boa Vista (RR); Cesar Maia (PFL), do Rio; Tadeu Palácios, do PDT, de São Luís. Além de seis petistas: Marcelo Déda (Aracajú-SE), Marta Suplicy (São Paulo), Pedro Wilson (Goiânia), João Paulo (Recife), Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e João Henrique, Macapá (AP).

Dos 94 parlamentares que disputam as eleições municipais, 36 estão concorrendo a prefeituras de capitais, sendo 31 deputados e 5 senadores. Os cinco senadores optaram por disputar prefeituras de capitais: Ana Julia Carepa (PT) e Duciomar Costa (PTB) estão na briga pela prefeitura de Belém; Marcelo Crivella (PL), do Rio; Teotônio Vilela Filho, Maceió e César Borges (PFL), de Salvador. Borges terá entre seus adversários o ex-líder do PT na Câmara, deputado Nelson Pellegrino.

José Dirceu diz que não leva desaforo

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, convocou ontem a militância petista a ?não baixar a cabeça e não levar desaforo para casa?, em encontro com candidatos a prefeito e a vererador da região do ABC paulista, em São Caetano do Sul. Dirceu disse que durante a campanha não fugirá à briga se for provocado.
?Não quero eleição com baixaria, mas se me chamarem para a briga vão ter briga?, afirmou.

Antecipando a avaliação dos 18 meses do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que será feita na próxima segunda-feira em reunião ministerial, Dirceu disse que o PT não pode ser confundido com o governo porque ?amanhã poderá deixar de ser? e criticou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, considerando ?um absurdo? chamarem a atual administração federal de incompetente.

“É um absurdo chamarem o governo de incompetente. Quem eles são? Eles são o governo que fizeram o apagão, que diziam que as questões sociais não passavam de masturbação sociológica. Foram eles que sucatearam a infra-estrutura do país?, disparou.

Defesa

Ainda na linha de defesa, o ministro da Casa Civil garantiu que o governo Lula não admite corrupção: ?Esse governo não deixa roubar. Nele não tem corrupção?.

José Dirceu considerou ?ineficiente? o crescimento de 3,5% projetado este ano para o país e afirmou que é necessário que os juros caiam para que haja desenvolvimento. Mas, segundo ele, para isso está correta a política do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, já que é preciso que a queda dos juros seja lenta e gradual para não desequilibrar a economia.

?O Palocci não poderia baixar os juros de uma hora para outra porque isso quebraria o país?, disse. No encontro com candidatos a prefeito de sete municípios do ABC, José Dirceu ganhou uma camisa 10 do São Caetano, um dos líderes do Campeonato Brasileiro de Futebol, com o seu nome.

Presidente avalia 18 meses

Com sua popularidade em queda nas pesquisas de opinião e enfrentando protestos em viagens pelo país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu aproveitar a passagem dos 18 meses de governo para divulgar um balanço de realizações e avanços em seu governo. O aniversário de um ano e meio de mandato foi no dia 1.º de julho, mas as comemorações acontecem nesta segunda-feira, começando com uma reunião ministerial. Lula comandará ainda uma cerimônia às 15h30m, no Salão Leste do Palácio do Planalto.

Todos os ministros, os líderes dos partidos da base aliada e os presidentes de estatais estarão presentes, mas Lula recomendou aos assessores mais próximos que a festa não seja tão grandiosa como a do primeiro ano de governo. Nos últimos dias, Lula oscilou entre não fazer uma comemoração oficial e realizar uma festa mais discreta, tanto que foi escolhido o Salão Leste e não o Salão Nobre do Planalto, o maior deles.

Chamado de ?gerentão do governo? por Lula, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi o escolhido para divulgar um balanço das ações neste um ano e meio de governo. O presidente deverá centrar seu discurso nos últimos dados da política econômica, que têm mostrado o reaquecimento da economia brasileira. Lula, segundo seus auxiliares, vai repetir que o Brasil entrou definitivamente numa fase de crescimento.

Na festa, também será exibido um vídeo com as realizações do governo nas áreas econômica, social, de comércio exterior e infra-estrutura. O carro-chefe será o Bolsa Família.

Também será distribuída uma revista intitulada ?O Brasil está mudando?. A Casa Civil pediu que todos os ministérios enviassem dados atualizados para a publicação, que trará comparações com o desempenho do governo anterior, principalmente na área social, uma das mais criticadas pela oposição e até por aliados do governo.

Plano Real

Os 18 meses de governo foram completados justamente no dia 1.º de julho, data dos dez anos de Plano Real. Nesse dia, Lula teve uma discreta agenda no Palácio do Planalto, enquanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e outras personalidades do governo anterior davam entrevistam sobre o Real e a atual política econômica. Mas assessores do presidente garantem que o fato não teve nenhuma relação com a escolha do dia 5 de julho para comemorar um ano e meio de governo.

Em seus últimos discursos, inclusive para investidores em Nova York, Lula tem enfatizado que avançou muito, mas também tem reconhecido que ainda há muito o que fazer. Os maiores desafios estão justamente na área social, onde o governo não consegue mostrar resultados como nas áreas econômica e comercial.

?O presidente não poderia deixar passar a data em branco. Ele pediu que fosse elaborado um documento com um apanhado geral das realizações do governo como forma até de integrar os ministros?, disse um interlocutor do presidente Lula.

Irregularidades preocupam TSE

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concentrou atenção especial no aprimoramento das regras para prestação de contas dos candidatos às eleições municipais de outubro. Irregularidades e fraudes nas prestações de contas são os problemas que mais preocupam a Justiça Eleitoral atualmente.

Entre as novidades que constam das instruções normativas está a obrigatoriedade de o candidato comunicar com antecedência à Justiça Eleitoral a realização de shows, festas e eventos para arrecadar fundos para a campanha. Além disso, os doadores que contribuírem com mais de R$ 50 deverão ser identificados.

Criticado por dirigentes partidários e tesoureiros de campanhas, o mecanismo que permite ao candidato abastecer o site do TSE com informações em tempo real sobre seus doadores e as quantias arrecadadas para a campanha também se destina a contribuir para a maior transparência do pleito. A intenção do TSE é dar instrumentos para o eleitor conhecer melhor os candidatos e adiantar a prestação de contas do partido, que deve ser realizada após as eleições.

Recém-afastado do TSE por já ter cumprido seu mandato, o ex-ministro Fernando Neves elaborou a maior parte das instruções normativas do tribunal para a votação deste ano. Ele esclareceu que a prestação de contas on-line não é obrigatória, pois não está prevista em lei. Neves fez um apelo para que o Congresso Nacional modifique a legislação vigente nesse aspecto:

?Tanto o candidato que recebe quanto quem dá algum dinheiro ou presta algum serviço para a campanha pode ir ao juiz eleitoral e mostrar a documentação. O juiz eleitoral vai examinar aquilo e colocar na página na internet, que vai ficar disponível para qualquer pessoa ver como cada candidato está arrecadando dinheiro. Seria bom se fosse obrigatório, mas a Justiça Eleitoral não pode mudar, porque é lei. Esperamos que essa ferramenta sensibilize o Congresso e inclua a proibição na lei?, disse.

Dados

Todos os dados apresentados pelos candidatos são públicos. Inclusive a declaração de renda apresentada por ele no dia do pedido de registro na Justiça Eleitoral.

?Quem quer ir para uma função pública, para ditar uma conduta pública, tem que entender que parte de sua intimidade acaba. Ele precisa prestar contas à nação e ao seu eleitorado. Eu tenho esperança que muitas pessoas queiram ser transparentes e éticas?, justificou Neves.

A apuração dos votos neste ano deverá ser mais ágil do que em 2002, quando houve eleições gerais, e em 2000, últimas eleições municipais. Além dos programas das urnas eletrônicas terem sido aperfeiçoados, o voto impresso, que tumultuou as eleições de 2002, foi extinto neste ano. ?Vamos ter o resultado das eleições no dia 3 de outubro. O fato de não ter o voto impresso deve facilitar. Ele trouxe mais problemas do que segurança?, disse ex-ministro.

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