Procurador-geral diz que não há nada contra Lula

Empossado em meio à crise, o novo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, tem se pautado pela discrição. Em suas poucas declarações públicas, ele faz questão de frisar que até agora não há algo que comprometa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no inquérito que apura o mensalão. Dentro do Ministério Público Federal, Antônio Fernando divide opiniões por guardar a investigação a sete chaves.

No aspecto técnico, o procurador-geral é elogiado por aliados e opositores. A polêmica está na postura política que vem adotando desde que assumiu o cargo. Antônio Fernando fala pouco e é acusado por seus críticos de ser fechado demais, autoritário e centralizador. Para investigar os escândalos, cercou-se de um pequeno grupo de procuradores de sua confiança. Ali, a ordem é também não falar. E muito menos vazar informação para a imprensa.

A oposição ao grupo do qual o procurador-geral faz parte não é de hoje. Antônio Fernando é ligado a seu antecessor, Cláudio Fonteles. Foi Fonteles, aliás, o principal articulador da decisão que levou à sua nomeação. Ao ouvir do presidente Lula o pedido para permanecer no cargo por mais um mandato, Fonteles reafirmou que não queria ser reconduzido, mas observou que ficaria satisfeito se o escolhido fosse Antônio Fernando. E assim foi feito.

O marco da resistência ao grupo capitaneado por Antônio Fernando e Fonteles é a polêmica que pôs o subprocurador José Roberto Santoro na berlinda pelo modo como obteve a fita que detonou o escândalo Waldomiro Diniz. Desde então, a instituição está rachada.

Nesse embate, a ala do procurador-geral estaria perdendo. Pelo menos no Conselho Superior do Ministério Público, órgão máximo da instituição, Antônio Fernando não tem maioria. Isso ficou evidente há pouco mais de um mês, quando o conselho decidiu arquivar o procedimento instaurado para averiguar se Santoro extrapolou suas funções ao receber o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira durante a madrugada para convencê-lo a entregar a fita do caso Waldomiro. Antônio Fernando, seguindo postura adotada antes por Fonteles, defendia punição para Santoro. Acabou derrotado pela outra ala. Foram sete votos contra três.

Entre as críticas, pesam contra o procurador-geral declarações recentes pró-governo. Além de dizer que não há motivos para investigar o presidente da República, na semana passada Antônio Fernando fez coro ao discurso governista para criticar a atuação dos promotores de São Paulo que revelaram as acusações de Rogério Buratti contra o ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Os procuradores que defendem Antônio Fernando o fazem com base nos mesmos motivos que provocam as críticas. Para essa ala do Ministério Público Federal, o procurador-geral tem agido corretamente, com discrição e responsabilidade, e tal postura deve nortear a instituição. Para colegas mais próximos, ele tem conduzido o inquérito do mensalão de maneira serena e tranqüila, sem se preocupar com o estrago político que o resultado da investigação poderá provocar. O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Nicolao Dino, elogia o estilo de Antônio Fernando. Para ele, esse tipo de atitude pode dar mais credibilidade ao MP.

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