MST incha acampamentos com desempregado urbano

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984, mudou de tática e começa a formar uma nova geração de sem-terra em acampamentos às margens de rodovias. Para atrair cerca de 20 mil pessoas ao Pontal do Paranapanema, uma das regiões de maior tensão no campo no Noroeste de São Paulo, o MST tem arregimentado desempregados até em outros estados para inflar acampamentos como forma de pressionar o governo.

Presidente Epitácio

Nada doutrinados, os neo-sem-terra ainda têm vínculos formais com as cidades, como subempregos ou casa alugada. Muitos formam uma população flutuante nos acampamentos e viram sem-terra apenas nos fim de semana, quando vão para as áreas sob o comando do MST. Muitos desses neo-sem-terra, ao contrário do que pregam dirigentes do MST, dizem ser contra invasões de terras e afirmam que, caso a polícia chegue, vão preferir se esconder. Segundo o MST, o método mudou por causa da conjuntura política do país, que, com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na visão deles ficou menos repressiva e empenhada na promoção da reforma agrária. Para eles, o incentivo é o discurso de Lula.

“Acho errado invadir terra. As coisas têm que ser feitas conforme a lei. Eu antes achava que o MST era só vandalismo e agitação. Mas agora, com o Lula presidente, as coisas mudaram para melhor, temos mais esperança de ter terra e ganhar o sustento nela”, diz Eliane Gracinda de Jesus, que há seis meses trabalhava num frigorífico de Presidente Epitácio e, como continua desempregada, decidiu acampar na estrada mais próxima. A inexperiência com a terra não assusta Eliane. Segundo ela, como o pai e o avô sempre trabalharam em fazendas, será fácil aprender a cultivar alimentos.

“A terra fica no sangue. E além disso, vamos fazer cursos e, como no MST todo mundo é solidário, aprendo logo. Agora, se a polícia chegar, junto meus pauzinhos, a lona e corro daqui”, afirma Eliane. Vizinha de Eliane, Vilma Simplício da Silva pensa parecido, mas afirma que o marido, pedreiro, já trabalhou na roça como bóia-fria. Vilma, Eliane e outros milhares de neo-sem-terra não entraram para o MST como os antigos integrantes. O método de arregimentação do MST envolvia um trabalho de pelo menos seis meses com grupos urbanos que funcionava como uma espécie de formação para as famílias aderirem ao movimento.

Hoje, elas vão atraídas por discursos de 15 minutos em rádios comunitárias ou carros de som nas cidades do Pontal do Paranapanema com discursos do tipo: “Você que está devendo aluguel, com fiado na venda e sem emprego está vendo o que o espera. Antes de cair no buraco, de ver seus filhos na marginalidade, de espancar sua mulher, venha para o MST lutar pelo seu sonho. Onde nossa bandeira for fincada, não sairemos sem vitória”, diz um carro de som do MST.

Favelas rurais são barril de pólvora

Presidente Epitácio – As antigas barracas de lona dão lugar a casas de madeira sem banheiro, água, energia elétrica. Plantados ao longo das rodovias do Pontal do Paranapanema, bem perto da divisa de São Paulo com Paraná e Mato Grosso do Sul, os novos acampamentos de sem-terra são favelas rurais instaladas a poucos quilômetros das terras chamadas devolutas ou griladas da região, alvos das invasões articuladas pelo MST e movimentos camponeses menores, como Uniterra e Movimento dos Agricultores Sem Terra (Mast). A estimativa é de que já passem de 20 mil pessoas acampadas nesses barracos, população que supera em cinco vezes o número de moradores de cidades vizinhas como Sandovalina ou que atinge a metade da de Presidente Epitácio.

Os números, no entanto, aumentam a cada dia, assustando prefeitos e fazendeiros do Pontal empenhados em reforçar a segurança armada porteiras adentro. A demanda por escolas, remédios e atendimento médico cresce. Muitas famílias estão chegando do Paraná, de Mato Grosso e até da Bahia. Prefeituras como a de Presidente Prudente e Sandovalina decidiram fechar as portas aos sem-terra. Divaldo Pereira de Oliveira (PMDB), prefeito de Sandovalina, com 3.800 moradores, insiste em seu plano de fechar a cidade. “Terça-feira e na quarta, vou fechar a prefeitura, parar as escolas e o serviço médico em protesto contra esses sem-terra, que só trazem o atraso”, diz o prefeito.

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