MST fecha acordo com governo e reduz invasões

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Com Lula, números de famílias assentadas foi menor que com FHC.

São Paulo (AG) – Um pacto feito com o governo Luiz Inácio Lula da Silva tingiu de cor-de-rosa o anunciado "abril vermelho" do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Com exceção de Pernambuco e outros focos menores no Nordeste, os sem terra reduziram ocupações em regiões estratégicas e desmontaram ações previstas para este mês. Com 200 mil famílias acampadas, mantidas com cestas básicas do governo, o MST tem sido mais moderado no governo Lula do que nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, que assentou mais famílias, segundo dados do próprio governo Lula.

Os números do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Ouvidoria Agrária Nacional mostram que, nos oito anos de Fernando Henrique, houve uma média de 305 ocupações por ano, cerca de 90% delas feitas pelo MST. A cada ano de governo, Fernando Henrique assentou, em média, 65.547 famílias. Com Lula, houve uma média de 274 ocupações por ano, entre 2003 e 2004, cerca de 80% delas do MST. A quantidade de famílias assentadas foi menor: 58.777 famílias por ano.

Nas contas do MST o número de assentamentos foi menor ainda, porque o governo Lula considerou aí a legalização de áreas de assentamentos em vias de legalização. Os cálculos do MST indicam que foram cerca de 43 mil famílias por ano.

O MST resolveu esperar mais um semestre pela reforma agrária. Dirigentes do movimento têm tido encontros com Lula e com alguns ministros. Lula teria prometido acelerar a reforma agrária e melhorar créditos para a agricultura familiar, em troca da não-radicalização do MST.

A única mobilização nacional que o MST fará para lembrar as 19 mortes de Eldorado dos Carajás, ocorridas em abril de 1996, será uma caminhada de Goiânia até Brasília, com a promessa de não ocuparem prédios ministeriais, como fez na quinta-feira o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), ala mais radical do movimento dos sem terra no País. O apoio do MST à reeleição de Lula ainda ficou na dependência do aumento do número de assentamentos.

Diferença entre gestões

Rio (AG) – O ex-deputado federal petista Plínio de Arruda Sampaio, que chegou a ser contratado temporariamente por Lula para dirigir o Plano Nacional de Reforma Agrária, ressalta que a diferença entre os governos Fernando Henrique e Lula é grande. Segundo ele, o ex-presidente perseguia o MST. Já Lula dialoga. "Não diria que o MST está cor-de-rosa. Apenas não há uma oposição frontal, porque restam esperanças. São 20 anos de amizade e de apoio mútuo entre MST e PT. Não é um casamento que se desfaça facilmente. O MST está aborrecido, mas não rompeu o casamento", diz.

Jaime Amorim, da direção nacional do MST, comanda o maior foco das ocupações, em Pernambuco, mas sugere que os esforços sejam concentrados na marcha até Brasília. "Com Lula, a qualidade da nossa luta mudou. O problema é que o Estado brasileiro sempre esteve preparado para atender apenas às elites", finalizou.

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