Mercado se manterá instável até a eleição

Rio

(AG) – Embora discordem sobre o grau de responsabilidade dos candidatos à Presidência pelas turbulências no mercado, economistas dizem acreditar que a intranqüilidade deve continuar até outubro. Para Eustáquio Reis, diretor do Instituto de Pesquisa Brasileiro de Economia Aplicada (Ipea), as dúvidas sobre se o próximo governo conseguirá honrar seus compromissos tomaram conta do mercado de maneira irreversível.

– São fenômenos quase psicológicos que se auto-sustentam. O processo adquire uma dinâmica e lógica próprias. Não adianta o que os candidatos falam e menos ainda o que está escrito em seus programas. Vamos ter que conviver com essa incerteza até a eleição. O Banco Central precisa ter uma posição firme e cautelosa – afirma Reis.

O diretor do Instituto Brasileiro de Empresas (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Porto Gonçalves, afirma, no entanto, que os candidatos têm parte da culpa sobre a onda especulativa que passou a dominar o mercado. Na opinião de Gonçalves, os candidatos de oposição (Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, e Anthony Garotinho, do PSB) contribuem para o clima de incerteza quando dizem que as dívidas interna e externa são impagáveis ou acenam com a possibilidade de renegociá-las.

– Quando se fala em renegociar, ninguém põe dinheiro novo. Você não vai emprestar dinheiro para alguém que está querendo negociar débitos anteriores – diz Pôrto Gonçalves, que também critica o candidato tucano, José Serra, por contribuir com essa situação ao afirmar que é o único candidato capaz de manter a estabilidade.

Clareza

A falta de clareza das propostas apresentadas é outro fator que estimula as especulações, diz o professor de economia da PUC/RJ José Márcio Camargo, sócio da Tendências Consultorias. – Todos são a favor da estabilidade e de gastar mais recursos do estado. São duas coisas incompatíveis. Há um déficit nominal do setor público da ordem de 3% do PIB todos os anos, mesmo com um superávit primário de 3,5% . Para que a relação dívida/PIB não aumente, é preciso crescer 3,5% ao ano. Essa é a origem de todos os problemas. Surge a desconfiança de que não haverá condições de honrar a dívida – diz Camargo.

A carência de propostas também é criticada pelo economista Paulo Rabello de Castro, vice-presidente do Instituto Atlântico, que coordenou a elaboração do programa econômico do PFL.

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