Governo Lula dá a sua cartada de mestre

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Treinamento militar para a Cúpula
América do Sul e Países Árabes.

Brasília – Num dos lances mais ousados da política externa do governo Lula, 34 chefes de Estado, de governo e altos funcionários da América do Sul e da Liga Árabe se reúnem em Brasília, terça e quarta-feira, dispostos a transmitir uma mensagem extremamente política ao resto do mundo: as nações em desenvolvimento defendem o multilateralismo. Na declaração que será assinada pelos participantes da Cúpula América do Sul-Países Árabes, haverá temas que incluem desde a causa da Palestina, a situação do Iraque e o terrorismo até uma manifestação conjunta contra o protecionismo dos países ricos e o capital especulativo internacional.

Para o governo brasileiro, a aproximação com os árabes abrirá, no mínimo, um novo eixo político, com posições semelhantes também em fóruns multilaterais. São destaques a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nesse último item, a idéia é enfatizar, no documento final, as assimetrias que existem entre as partes rica e pobre do planeta.

Numa condenação velada ao governo norte-americano -que tentou, mas não conseguiu enviar um observador -, os países assumirão o compromisso de fortalecer o multilateralismo. Não se sabe ainda se Israel fará parte da declaração conjunta, mas os participantes vão defender uma saída para a pacificação total da Palestina e mencionarão a necessidade de o Iraque, que desde o último sábado tem um presidente empossado – Jalal Talabani -ser reconstruído e voltar à normalidade, sem a interferência de grupos extremistas, que espalham o terror no país. Será a primeira reunião de que Talabani participará como chefe de Estado. Nas negociações do documento final, o presidente Lula conseguiu emplacar sua proposta de combate à fome e redução da pobreza. A Tunísia propôs a criação de um fundo, enquanto o Brasil espera qualquer tipo de fonte de receita, inclusive a taxação de armas e do capital especulativo internacional. ?Tudo o que constará na declaração final foi colocado com base em resoluções tomadas no âmbito das Nações Unidas – frisou o diretor do Departamento do Norte da África do Ministério das Relações Exteriores, Pedro Mota.

Formas diversas de governo

Brasília – Outra questão não revelada pelo governo brasileiro diz respeito à democracia: não se sabe se a palavra foi ou não inserida na declaração. O provável é que a decisão ficará para os chefes das delegações. As formas de governo da América do Sul e do mundo árabe são distintas e, em alguns casos, há entendimentos de que lá essas organizações podem resvalar para ditaduras. ?Quando o presidente Lula visitou a Síria, em dezembro de 2003, muitos criticaram. Só que, uma semana antes, o ex-presidente do governo da Espanha, José María Aznar, esteve naquele país. E algumas semanas depois, foi para lá uma missão do governo americano. Por que eles podem e nós não podemos? Não temos o direito de interferir na política interna de qualquer país, assim como não gostaríamos que agissem dessa forma com o Brasil?, afirmou o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Mário Vilalva. Ele assegurou que, apesar de, pela primeira vez, representantes de duas regiões do Terceiro Mundo de dimensões continentais se reunirem, não há razão para temor, especialmente da parte dos Estados Unidos:

?Não há motivo para temor. São 34 países de boa-fé?.

Com tantas diferenças culturais, os participantes também terão ajuda quanto ao idioma: foram contratados 83 intérpretes, para atender a 17 chefes de Estado e de governo, além de chanceleres e vice-presidentes. O Itamaraty reservou os melhores hotéis da cidade – alguns tiveram de reformar suas suítes presidenciais – e instruiu os funcionários sobre como receber os árabes para evitar ruídos de comunicação.

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