Governo Lula corre para abafar a CPI de Dirceu

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou na manhã de ontem ao Palácio do Planalto ministros e líderes que participam da cúpula do governo, para explicar as providências tomadas para investigar o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares do Planalto Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, numa fita gravada pelo bicheiro, em 2002.

O raciocínio do Planalto é simples. Fazer uma ampla investigação em uma via e em outra via, impedir a abertura de uma CPI para o caso, como pretende a oposição. O governo vai mobilizar a base parlamentar para evitar a convocação da CPI e neste caso, o PMDB será, mais uma vez, peça fundamental. Os partidos de oposição já começaram a se mobilizar.

O PSDB e o PDT já se pronunciaram a favor da convocação de uma CPI. De qualquer forma, o governo Lula está na defensiva. O presidente pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que a investigação do caso fosse ampla. No Planalto, há uma grande mobilização por causa do caso: Lula até cancelou a cerimônia de apresentação de credenciais de novos embaixadores no país, marcada para as 15h30.

No encontro, pela manhã, foi acertado também que o ministro José Dirceu (Casa Civil) iria ao Congresso, na reabertura dos trabalhos do Parlamento, e faria um pronunciamento sobre o caso. A avaliação no governo é de que Dirceu não poderia deixar o assunto sem uma resposta. Até à reforma ministerial, quando a Casa Civil perdeu as funções de coordenação política, Dirceu era o chefe de Waldomiro e foi o ministro quem o trouxe para o governo.

O presidente do PT, José Genoino, no entanto, já está em Brasília e trabalha com a bancada para evitar a abertura de uma CPI. Assim como Dirceu, Genoino alega que o fato ocorreu em 2002, portanto, antes do governo Lula e de que não há indício de irrregularidades cometidas por Waldomiro na Casa Civil. “Não tem sentido uma CPI porque o fato não correu no governo Lula e não há notícia de irregularidades cometidas por ele (Waldomiro) na Casa Civil”, disse Genoino. Ele disse que já convenceu o ex-líder do partido no Senado Tião Viana (AC) a não assinar o pedido de abertura da CPI.

A Polícia Federal fez ontem uma operação de busca na casa de Waldomiro Diniz e de Messias Antônio Ribeiro Neto, sócio do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Messias prestou depoimento ao Ministério Público e contou como funciona o financiamento de campanha de políticos em Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Dirceu: corrupção velha não vale

Brasília – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi a estrela de ontem no Congresso durante a abertura dos trabalhos legislativos de 2004. A presença dele foi uma tática do PT de dar esclarecimentos públicos sobre o escândalo da propina. Segundo Dirceu, os fatos anunciados aconteceram em 2002, no Rio de Janeiro, antes do atual governo. “Não foi apontada irregularidade durante o atual governo”, afirmou, após participar no Congresso da abertura do ano legislativo.

Dirceu afirmou que o governo agiu imediatamente exonerando e mandando instaurar inquérito. “É bem verdade que qualquer outra iniciativa cabe às autoridades do Ministério Público, às autoridades da Polícia Judiciária e ao parlamento brasileiro.” Em seguida, o ministro encerrou suas declarações e não respondeu a perguntas.

Dirceu não fez qualquer comentário sobre sua amizade com Waldomiro Diniz e sobre o fato do seu homem de confiança já ter sido denunciado, em meados do ano passado, quando já ocupava cargo no governo, de ter envolvimento com bicheiros.

Em São Paulo, o presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou que a culpa do escândalo é do PSDB. Ele diz que as notícias são “requentadas pelo PSDB”. “Isso é uma tática de setores do PSDB para trazer para 2004 a disputa de 2002”, afirmou. Segundo Genoino, as denúncias apresentadas são da época em que Diniz não era funcionário da Casa Civil. Por isso, ele disse que o congresso não pode “ser ingênuo e engrossar o caldo do PSDB” aprovando a instalação de uma CPI. O presidente do partido acredita que o PSDB teria utilizado essa tática diante das “boas perspectivas do PT nas eleições”.

E a oposição vai para cima do PT

Brasília – A bancada do PSDB no Senado decidiu assinar o requerimento de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias contra o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz. A informação foi confirmada pelo senador Antero Paes de Barros (MT), autor do requerimento. Dos onze senadores tucanos, o único que não vai assinar é o senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO). Para o senador, os fatos não justificam a abertura da CPI.

Além disso, Siqueira Campos é contra porque acredita que a CPI vai se transformar em um “palanque eleitoral”. “A CPI não vai ser instalada antes de março e os trabalhos vão se dar nos meses de abril, maio e junho, justamente na época das convenções partidárias. Não tem como esta CPI se tornar um palanque eleitoral”, afirmou. São necessárias 27 assinaturas para a instalação da CPI. Antero Paes de Barros não divulga o número de assinaturas mas garante que, esta semana, terá o número mínimo.

O senador Osmar Dias (PDT-PR) informou ontem que a bancada do partido no Senado fechou questão a favor da criação da CPI. A bancada da legenda tem cinco senadores. Já o líder do PFL no Senado, José Agripino (PFL-RN), explicou que sua bancada espera até hoje, para que o governo dê explicações sobre sua relação com Waldomiro Diniz. Caso contrário, vai apoiar a CPI.

No PT o momento é de cautela. Apesar de o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ter defendido a instalação da CPI na última sexta-feira, o partido deve se posicionar contra. Foi adiada para hoje a reunião da bancada do PT no Senado para decidir a posição dos senadores do partido em relação à CPI. Segundo a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), não há quórum suficiente para realizar a reunião.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), aliado do governo, não vai apoiar a CPI. Com ele, os três senadores da Bahia também deixam de assinar o requerimento. No PMDB é praticamente impossível que o partido firme uma posição única. Alguns senadores peemedebistas, como Mão Santa (PI), já assinaram o pedido de CPI mesmo antes de uma reunião da bancada para decidir como agir.

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