Exército ocupa o Rio para o samba ficar em paz

Rio – O Rio amanheceu ontem, dia do seu 438º aniversário, tomado pelo Exército, que montou vigília por diversos pontos da cidade para garantir a segurança no feriado de carnaval. Era comum ver jipes, caminhões e soldados com fuzis por avenidas, pontos turísticos e até nas praias. A madrugada foi a mais tranqüila da semana, sem maiores incidentes, depois de cinco noites de violência.

A Operação Guanabara, nome dado pelo Exército à ocupação do Rio, começou aos poucos anteontem. Na noite de quinta-feira, era possível ver as tropas se deslocando para os locais de vigília. Ontem, com a cidade já ocupada, os cariocas acompanhavam com interesse a movimentação dos soldados.

O Exército não divulga informações sobre a operação. Revelou apenas, em um boletim divulgado pela manhã, que “no decorrer das últimas 24 horas a Operação Guanabara transcorreu sem nenhum incidente de vulto”. Os militares montaram vigília em 25 pontos críticos, como entradas de favelas, principais vias de acesso à cidade e nas proximidades do sambódromo. As Polícias Federal e Militar e a Guarda Municipal estão com contingente extra nas ruas para reforçar a operação.

A presença dos militares provocou reações diversas. Para o aposentado Valentim dos Santos, a ocupação deveria ser permanente. “Estou no Brasil há 50 anos e nunca vi essa violência. Os soldados deveriam ficar sempre nas ruas. Com eles, fico mais tranqüilo”, disse ele, que passou a manhã em meio a uma dezena de soldados na Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte.

Armando Rodrigues dos Santos, gerente de uma loja na mesma praça, também acha que o Exército trouxe tranqüilidade. Mas faz ressalvas: “A presença deles melhora, mas apavora. Se eles estão nas ruas quer dizer que a criminalidade está vencendo a sociedade.”

Aniversário

Uma missa de Ação de Graças, às 10 horas, na Igreja de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca, celebrada pelo arcebispo Dom Eusébio Oscar Scheid, marcou o aniversário, com orações e pedidos pelo fim dos conflitos, que nesta semana foram responsáveis por uma onda de violência, atingindo quase todos os bairros da capital, com ônibus incendiados, assassinatos, roubos e atentados a bombas e granadas.

O culto religioso na igreja do padroeiro da cidade, encomendado pela Prefeitura, é uma tradição que reúne autoridades, servidores municipais e públicos em geral.

Apesar dos traficantes, agora reprimidos pelo plano Rio Seguro, do governo estadual, reforçado pela presença de 3 mil soldados das Forças Armadas, a cidade não se rendeu à intimidação e entrou no clima de carnaval.

Na sexta-feira, o Rei Momo e a Rainha do Carnaval receberam no Sambódromo as chaves da cidade das mãos do prefeito César Maia.

Beira-Mar pode ir para Minas Gerais

Belo Horizonte – O juiz José Eustáquio Lucas Pereira, da 3ª Vara de Tóxicos do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, disse ontem que o megatraficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, poderá ser transferido para uma prisão de Minas Gerais se o Ministério da Justiça não conseguir convencer nenhum outro Estado a recolhê-lo. Para o juiz, esse retorno do traficante para Minas poderia se tornar inevitável depois que ele cumprisse parte de suas penas e as autoridades de outros estados se recusassem a recebê-lo. Beira-Mar foi condenado em Minas a 12 anos de prisão, em regime fechado, e teve todas as suas condenações acumuladas. Até ontem o juiz da 3.ª Vara de Tóxicos não havia recebido nenhum contato de autoridades mineiras ou de outro Estado sobre essa possibilidade. Ele informou que no Fórum Lafayette estão tramitando dois processos contra o traficante; um pela sua fuga de uma cela do Departamento Estadual de Operações Especiais, no dia 26 de março de 1997, e outro de “perdimento de bens”, no qual a Justiça está julgando a apreensão de bens imóveis e outros pertences que foram comprados com dinheiro do tráfico. Um alto funcionário do governo mineiro revelou que a grande dificuldade para abrigar Beira-Mar em Minas seria a inexistência de uma prisão com segurança total.

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