Dirceu vê corrupção na era FHC

Brasília – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que a corrupção predominou “em um passado recente” nos negócios do Estado, inclusive nas privatizações. No discurso durante a cerimônia de divulgação do Relatório do Desenvolvimento Humano 2003, que apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil e em outros países do mundo, Dirceu disse que para evitar que se repita no País fatos e cenas de um passado recente, a Controladoria Geral da União está sendo reorganizada para acompanhar com rigor a destinação dos recursos públicos.

“A corrupção predominou nos negócios do Estado, inclusive em decisões que foram tomadas em áreas importantíssimas, como foi o caso das privatizações”, afirmou. “A corrupção é um problema grave no nosso país e o nosso governo tem se pautado pela condução transparente, democrática e ética dos negócios do Estado”, acrescentou. Ainda em seu discurso, José Dirceu defendeu as reformas constitucionais. Segundo ele, reformas como a tributária, agrária, trabalhista e previdenciária são mudanças que asseguram a distribuição de renda.

“Não basta fazer o ajuste fiscal. A economia tem de crescer. Mas não basta. Ela já cresceu 9, 11, 12% durante anos e agravou-se o problema social e a concentração de renda no País”, afirmou o ministro. Ele ressaltou que o governo reduzirá os juros, mas não citou prazos. De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil cresceu 16 posições na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desde 1975, ocupando atualmente a 65.ª posição. Apesar desse crescimento, o Brasil está atrás de países como México (55%), Antígua e Barbuda (56.ª), Panamá (59%) e Colômbia (64%). A Noruega ocupa a primeira posição.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiu com ironia à afirmação de José Dirceu, de que o “passado recente” foi a marcado pela corrupção. “Ele tem razão. É muito comum as prefeituras do PT serem acusadas de corrupção”, disse o Virgílio, que no governo Fernando Henrique Cardoso foi um dos titulares do posto hoje ocupado por Dirceu. O senador lembrou que há suspeitas de irregularidades nas prefeituras de São Paulo, Porto Alegre e Santo André: “O ministro deve estar fazendo uma autocrítica, se referindo a esses casos.”

A atitude de Dirceu, segundo Virgílio, não deve causar surpresa: “Quando o primeiro homem faz a política do boné, o segundo tem direito de falar a besteira que quiser.” Outro senador que reagiu foi Romero Jucá (PMDB-RR), ex-tucano que hoje integra a base de apoio ao governo Lula: “O presidente Fernando Henrique Cardoso se notabilizou por combater a corrupção.” Segundo ele, Dirceu não deve fazer acusações generalizadas: “Esse tipo de colocação é desnecessário.”

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