Católicos mobilizados contra reajuste salarial

São Paulo (AE) – A Arquidiocese de São Paulo lançou ontem um manifesto de repúdio à ?proposta de abusivo aumento salarial? dos parlamentares, durante uma missa celebrada na catedral por d. Pedro Luiz Stringhini, bispo responsável pela Região Episcopal Belém e pelas pastorais sociais, que organizaram o protesto. Apesar de o Congresso haver adiado a votação do reajuste, a Igreja Católica decidiu continuar mobilizada para impedir que a discussão seja retomada ?na surdina? em 2007.

?Num País onde a maioria da população ganha até dois salários mínimos, nossos representantes, deputados e senadores, que já contam com benefícios que chegam, praticamente, a R$ 100 mil mensais, aumentam seus próprios salários numa escala muito superior ao proposto para o aumento do salário mínimo e muito acima do já concedido a outras categorias do funcionalismo?, afirma o manifesto, lido duas vezes no altar.

Reforçando o apelo do texto, distribuído após a celebração, segundo o qual ?atos arrogantes como este das lideranças partidárias, ofensivos à democracia, exigem vigilância e repúdio constante da população?, d. Pedro aconselhou os fiéis a ficarem atentos contra futuras investidas dos congressistas. ?Eles pensam que são os donos do País, pensam que o povo não conta, mas o povo vai se manifestando, pois a democracia avança, por mais que eles (os parlamentares) pensem que não?, disse.

Ele, um dos nomes cotados para a sucessão do cardeal d. Cláudio Hummes, transferido para Roma como prefeito da Congregação para o Clero, revelou que escreveu ao presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB -SP), para dizer a ele que não pode haver paz sem justiça e que ?a sociedade está mais acordada do que se imagina?. Há dois meses, lembrou, Rebelo participou de um ato pela paz na Catedral da Sé.

Um dos padres que participaram do protesto, frei Alamiro Andrade, do Convento de São Francisco, extrapolou a indignação pela desigualdade salarial. ?Quando vejo William Bonner e Fátima Bernardes (jornalistas) na televisão, pergunto-me quanto a Rede Globo paga a eles?, disse, classificando como ?tremenda injustiça? a diferença de remuneração entre parlamentares e operários. Frei Alamiro pediu orações pelos parlamentares, que, ao se oporem à proposta de elevação salarial, ?estão honrando seu mandato?.

?Acredito que os parlamentares ainda vão tentar dar um golpe em cima de nós e, por isso, temos de começar a nos organizar para defender os direitos do trabalhador?, advertiu o metalúrgico aposentado Waldemar Rossi, coordenador da Pastoral Operária. Uma representante da Comissão Justiça e Paz reforçou a advertência, observando que, para evitar a repetição do que fizeram os líderes do Legislativo, ?é hora de se pensar em democracia participativa e não mais em democracia representativa?. 

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