Brasil não vê ameaça à democracia paraguaia

O governo brasileiro não considera que a democracia no Paraguai esteja ameaçada. Um dia depois das manifestações em favor da renúncia do presidente paraguaio, Luiz González Macchi, que provocaram a morte de duas pessoas, Palácio do Planalto e do Itamaraty avaliavam hoje que a situação no país vizinho inspira cuidados, mas não há riscos para as suas instituições. Na diplomacia, a maior preocupação estava concentrada no desgaste das relações entre os dois países, provocado pela falta de respaldo jurídico para o governo brasileiro decidir sobre a permanência do ex-general Lino Oviedo no País.

Hoje pela manhã, Macchi telefonou para o presidente Fernando Henrique Cardoso para descrever um quadro de maior tranqüilidade no país naquele momento. Aproveitou para pedir que o governo brasileiro encontre uma saída para apaziguar o ex-general, líder de uma tentativa de golpe em 1996 e agora acusado no país vizinho como instigador das últimas manifestações. FHC respondeu que o importante era a preservação da ordem institucional do Paraguai. Sobre o ex-general, limitou-se a explicar que ele está no Brasil em condições plenamente legais.

Fontes do governo explicaram hoje à Agência Estado que as manifestações de ontem em vários pontos do Paraguai, inclusive em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Brasil, não podem ser caracterizadas como um levante armado contra o governo Macchi. Ameaça como essa foi observada apenas em 1999, quando o vice-presidente paraguaio, Luiz María Argaña, foi assassinado, e o então presidente, Cubas Grau, deixou o governo e fugiu para o Brasil.

?Não houve tentativa de golpe de Estado no Paraguai. Houve manifestações populares, mas não um levante armado, nem uma revolução nem uma ameaça de golpe?, afirmou uma alta fonte do Itamaraty. ?Não há sintomas de que a democracia esteja ameaçada no Paraguai?, completou.

Apesar dessa leitura, o governo brasileiro está ciente de que a presença do ex-general Oviedo no seu território é capaz de provocar sérios transtornos nas suas relações com o Paraguai. Fontes do Itamaraty reconhecem que ?dificilmente? Oviedo não esteja envolvido nos incidentes de anteontem no país vizinho e não seja, portanto, o instigador da derrubada do governo Macchi. Entretanto, o governo se mantém ?de mãos atadas?, absolutamente sem capacidade de legal de extraditar, deportar ou mesmo de prender o ex-general em seu território.

?A única coisa que o governo brasileiro pode fazer é chamar o Oviedo ao Ministério da Justiça, fazer um alerta a ele de que não nos interessam os impactos de suas atividades políticas nas nossas relações com o Paraguai e pedir para que ele se comporte?, afirmou um diplomata que acompanha essa questão, em referência à audiência marcada para a tarde de amanhã. ?Não há nenhum meio compulsório de resolver essa situação.? A ausência de controle do governo sobre a atuação política de Oviedo se deve basicamente a sentenças judiciais. A principal delas foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de negar, no ano passado, o pedido de extradição encaminhado pelo Paraguai.

Voltar ao topo