Ativistas devolvem lixo do pior desastre industrial do mundo

Hoje pela manhã, o Greenpeace e os sobreviventes do pior desastre industrial do mundo, ocorrido em Bhopal (Índia), devolveram o lixo tóxico recolhido no local do desastre para a empresa Dow Química. O lixo foi abandonado em Bhopal em 1984 e permanece contaminando os habitantes do local.

Dez ativistas do Greenpeace, incluindo John Passacantando, diretor-executivo do Greenpeace EUA, e Rashida Bi, líder da União das Mulheres Vítimas de Gás em Bhopal, ambos participantes da Campanha Internacional por Justiça em Bhopal, descarregaram 250Kg de lixo adequadamente estocados em sete barris, que estavam no navio Arctic Sunrise do Greenpeace, e entregaram os barris na maior unidade de operação da Dow na Europa, a Dow Benelux, na Holanda. Três ativistas desceram no topo do prédio e penduraram oito painéis gigantes mostrando fotografias do crime corporativo cometido pela Dow em Bhopal e uma faixa exigindo que a Dow limpe a sujeira de Bhopal.

?Nós continuaremos confrontando a Dow com relação a esse crime corporativo até que ela limpe a sujeira que deixou em Bhopal e pare de nos contaminar. Nós já temos que lutar para sobreviver às doenças decorrentes da exposição ao gás letal sem auxílio adequado da empresa responsável, e agora estamos tendo que encarar a morte lenta por exposição a esses venenos. Como é que uma empresa pode sair disso ilesa??, perguntou Rashida Bi, que viajou à Holanda para participar do protesto.

O lixo venenoso que foi devolvido hoje é apenas uma pequena fração das centenas de toneladas que foram deixadas para trás na fábrica de pesticidas em Bhopal desde 1984, quando a Union Carbide, comprada pela Dow, fugiu da cidade depois do vazamento de gás que matou 8.000 pessoas nos três primeiros dias após o acidente e prejudicou aproximadamente meio milhão. Ninguém assumiu a responsabilidade pelo lixo e a empresa química continua se recusando a limpar o local. Por 18 anos, substâncias químicas tem vazado para o solo e para a água subterrânea do entorno da fábrica, contaminando as pessoas que conseguiram sobreviver ao vazamento de gás. Até hoje, o número de mortos chega a 20.000, crescendo a cada dia. Filhos de sobreviventes sofrem de problemas de saúde e 150.000 pessoas precisam de cuidados médicos urgentes.

Um novo relatório, lançado hoje pelo Greenpeace, apresenta novas evidências de contaminação grave em decorrência do lixo tóxico abandonado na fábrica. Cientistas do Greenpeace identificaram diversos venenos no lixo, incluindo Sevin, o pesticida que a Union Carbide fabricava em Bhopal, e BHC, uma mistura de substâncias químicas tóxicas que pode afetar o sistema nervoso, o fígado e os rins, e que pode ser passado para o feto caso atinja mulheres grávidas.

?Nós não vamos permitir que a Dow enterre esse crime na Índia e vamos continuar apontando evidências em todo o mundo para confrontar a empresa com suas responsabilidades com relação àqueles que foram envenenados por culpa da sua falha em aceitar as responsabilidades que continuam pendentes em Bhopal. Corporações como a Dow se beneficiam do mercado global para desenvolver seus negócios mas não são responsabilizadas globalmente por suas operações. Até que isso aconteça, crimes como este continuarão sendo cometidos, e as pessoas e o meio ambiente continuarão pagando por isso?, disse Ganesh Nochur, coordenador da campanha no Greenpeace Índia, a bordo do navio Arctic Sunrise.

A Campanha Internacional por Justiça em Bhopal pede que a Dow aceite sua responsabilidade pelas pendências em Bhopal, limpe o local, forneça água limpa aos habitantes e garanta tratamento médico a longo prazo e indenizações adequadas. A Campanha também pede que seja criada uma legislação internacional para assegurar que empresas como a Dow sejam responsabilizadas pela poluição e pelos acidentes que suas operações causem, onde quer que seja.

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