Apagão dissonante

O governo reuniu o que tem de melhor no setor energético para tranqüilizar a população de que não existe risco de racionamento de eletricidade, pelo menos até o final de 2009. Para isso, convocou uma entrevista coletiva da qual participaram a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil (que antecipou o retorno das férias); Nelson Hubner, ministro interino de Minas e Energia; Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e Hermes Chipp, presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O único a não ser convidado para a força-tarefa foi o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, que no início da semana manifestara em entrevistas a preocupação com o insatisfatório nível de água nas represas das usinas hidrelétricas das regiões Sul e Sudeste.

Kelman advertia então ser improvável, mas não impossível, a falta de energia este ano. O significado subjacente da advertência do presidente da Aneel, para alguns analistas, tinha o sabor do ?depois não digam que não avisei?, porquanto se permitiu a licença de recomendar ao governo o lançamento imediato de campanha popular enfatizando a necessidade de economizar eletricidade.

Uma das encomendas dirigidas à ministra Dilma Rousseff, principal autoridade do governo na ocasião, e ela o fez da melhor maneira, foi esclarecer que o presidente da Aneel ?é uma voz dissonante?, inclusive dentro da própria instituição que preside. A evidência invocada foi a recente derrota de Kelman por quatro votos a um, numa votação interna dos diretores da agência, com a finalidade de estabelecer os limites mínimos de segurança hídrica dos reservatórios. Esse limite é o parâmetro para ordenar o acionamento da produção de energia pelas usinas térmicas.

O governo só não conseguiu explicar, a contento, por que, mesmo com a derrota do presidente da Aneel, foi expedida a autorização para o funcionamento de meia dúzia de térmicas localizadas na região Sudeste, cuja produção conjunta estimada é de 1,595 mil MW médios. A falta de gás para tocar as usinas, todavia, restringiu a geração a 898 MW médios.

Maurício Tolmasquim, carrasco dos dirigentes do setor energético do governo FHC, a quem rotulava de ineptos e culpados pelo apagão de 2001, usando uma fórmula que hoje lhe é bastante conveniente, afirmou que as ?térmicas existem justamente para gerar em momentos como esse?. Mesmo para o observador menos articulado não será difícil concluir que não foi outra coisa que quis dizer o presidente da Aneel, Jerson Kelman, no começo da semana.

Por enquanto, essa discussão no setor energético gera mais calor do que luz…

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