Acidentes com ciclistas em rodovias crescem 93%

São Paulo (AE) – O número de acidentes com bicicletas nos 3.500 quilômetros de rodovias paulistas administradas por concessionárias aumentou 93,5% num intervalo de cinco anos. De acordo com levantamento da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), em 2000 ocorreram 309 colisões envolvendo ciclistas, número que subiu para 598 em 2004. E o problema tende a piorar. Só no primeiro semestre deste ano, a Artesp registrou 328 casos.

"A tendência é de que os acidentes aumentem, pois a bicicleta é responsável por 7,4% dos deslocamentos nas áreas urbanas, perto de rodovias ou não", diz o arquiteto e urbanista Sérgio Bianco, coordenador do Grupo de Trabalho Bicicleta, da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). "Em 2000, 15 milhões das 204 milhões de viagens diárias foram feitas com bicicletas."

O Brasil tem apenas 600 quilômetros de ciclovias, número muito pequeno quando se pensa em uma frota nacional de 50 milhões de bicicletas. Para evitar que a escassez de vias para uso exclusivo confirme a tendência de aumento de acidentes, a Artesp está realizando estudos e pensando em formas de agir. Já se identificou que entre os maiores obstáculos para o uso da bicicleta como meio de transporte estão os riscos de atropelamento e a falta de ciclovias e de estacionamentos.

"Nossos técnicos estão analisando os trechos onde há grande concentração de ciclistas e maior incidência de acidentes", explicou o diretor de operações da Artesp, Sebastião Ricardo Martins. "Com as conclusões, devemos iniciar campanhas educativas e de saúde. Numa segunda fase, vamos adotar outras medidas, como construir ciclovias em trechos urbanos."

Um dos pontos críticos é o trecho urbano da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, na região de São Vicente e Praia Grande na Baixada Santista. De janeiro a setembro de 2004, a Ecovias registrou 153 acidentes envolvendo bicicletas, com 17 mortos. No mesmo período deste ano, o número de acidentes aumentou, mas o de mortos caiu. Foram 169 acidentes, com 14 vítimas. Outro trecho de risco do Sistema Anchieta-Imigrantes fica na região do ABC, perto de Diadema.

Entre 2002 e 2004, ocorreram 212 acidentes na Rodovia dos Bandeirantes, deixando 214 ciclistas feridos e provocando a morte de 18. A maioria das ocorrências foi registrada aos sábados e domingos no trecho São Paulo-Jundiaí.

É justamente por temer acidentes que o triatleta Roberto Nitrini, de 29 anos, passou a evitar a Bandeirantes. "Treino agora na Rodovia Carvalho Pinto, que tem tráfego mais tranqüilo. Mesmo assim só faço isso aos domingos e, no máximo, das 7 às 10 horas. "Na Raposo Tavares, no trecho até Cotia, e na Castelo Branco, até Alphaville, nem posso pensar, pois os acostamentos são precários, há muitas saídas para carros e um fluxo muito grande de veículos."

Segundo a Viaoeste, de janeiro a setembro deste ano aconteceram 26 acidentes na Raposo Tavares, com 24 feridos e 2 mortos, principalmente no trecho de áreas urbanas e onde a pista não foi duplicada. Já na Castelo ocorreram 15 acidentes, com 16 feridos, a maioria perto de Osasco, Carapicuíba e Barueri.

Apesar de saber do perigo que corre, o pedreiro José Vanderlei Dias usa todos os dias a Castelo para ir de casa, em Itapevi, ao trabalho, em Alphaville. Ele diz que pelo menos dez pessoas fazem o mesmo que ele, por volta das 7 horas. "A gente está acostumado. Só temos de tomar cuidado quando o trânsito fica lento, pois alguns motoristas usam o acostamento."

Descaso

Para o arquiteto e urbanista Sérgio Bianco, da ANTP, o "desprezo" da sociedade e do governo com o ciclista é evidente. "A morte de tantos deles é a maior prova do que estou falando." Além da criação de ciclovias, ele defende a realização de campanhas de conscientização dos ciclistas, principalmente dos que usam a bicicleta como meio de transporte. "Eles devem aprender direção defensiva. Quem pilota uma bicicleta é agressor na calçada e agredido na rua."

O triatleta Roberto Nitrini é da mesma opinião. "É necessário que os ciclistas saibam de seus direitos e obrigações pois não tem cabimento atravessar uma rodovia de bicicleta e ou pedalar fazendo ziguezague no acostamento, correndo o risco de ser atropelado."

Os dois elogiaram a iniciativa da Artesp de fazer campanhas e estudar o assunto em profundidade. "Só construir ciclovias não basta. É necessário criar um sistema cicloviário, interligado ao transporte coletivo", destacou o representante da ANTP. Além da construção de bicicletários (longa permanência) e paraciclos (para períodos curtos), Bianco recomenda intervenções que contribuam para reduzir os conflitos entre carros e bicicletas, como rebaixamento de guias, sinalização e construção de passarelas.

Técnicos da concessionária Intervias pedem que os ciclistas que usam as rodovias colem adesivos refletores na frente, nas laterais, nos pedais e na parte de trás das bicicletas. Outras sugestões são: rodar em ciclovias ou em vias marginais, usar roupa clara, evitar sair à noite e só atravessar nas passarelas.

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