A ortodoxia de Palocci

Tanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quanto o ex-ministro Pedro Malan, consideraram o atual ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, um ortodoxo. E o vêem como condutor de uma política econômico-financeira mais ortodoxa ainda do que a que se fez sob a batuta de Malan.

Que política ortodoxa é essa? É a mesma que era duramente condenada, principalmente pelo PT, por buscar superávits constantes e elevados para pagar as dívidas do País, principalmente as externas. Pagavam juros, pois o capital era quase impossível com uma meta de superávits da ordem de 2,5%.

O governo Lula, com Palocci na Fazenda, elevou essa meta de superávit para mais de 4% do Produto Interno Bruto, ou seja, de tudo o que o país produz.

Onde querem chegar esses ortodoxos, os do governo FHC e seus sucessores, os do governo Lula, que praticam a mesma política econômico-financeira, este com maior rigor e ortodoxia?

Palocci explica que quer libertar o Brasil da dependência externa o quanto possível. Não objetiva a prática de uma política xenófoba, que não queira nem aceite o capital externo, mas uma situação mais folgada, em que seja possível negociar. E negociar para obter dinheiro mais barato e na quantidade que a nossa economia demanda. FHC e Malan elogiam o atual ministro da Fazenda e o governo Lula por sua política econômico-financeira ortodoxa, que nada tem a ver com as promessas de campanha e o que deles se esperava, como pretensos representantes da esquerda política brasileira. De esquerda não tem absolutamente nada. Se apelidos coubessem, seria tão neoliberal quanto a anterior, só que mais dura, mais exigente, mais arrecadadora. Para usar uma expressão bem popular, mais mão-de-vaca.

O elogio é porque o PSDB de Fernando Henrique Cardoso está vendo realizar-se o seu mesmo ideário e não está fazendo (ainda) oposição, mesmo porque estamos longe das eleições.

De parte de Palocci e de Lula, a ortodoxia aproveita o ainda existente entusiasmo de campanha e a novidade do atual governo. Ele existe há pouco tempo e é possível impor altas taxas de juros, aumento da carga fiscal, aumento do superávit primário, enfim, sacrifícios para a Nação, pondo a culpa no governo passado de FHC. A política econômico-financeira é a mesma e só mudou em grau. Agora é mais dura. E os homens, principalmente no Ministério da Fazenda, continuam praticamente os mesmos. Dos 254 cargos mais importantes daquela pasta, 159 são ocupados por gente do tempo de Fernando Henrique Cardoso. Foram renovados apenas 33%. E não é muito diferente em outras pastas, embora nesta, de Palocci, o continuísmo seja mais evidente. Não se sabe se esse fenômeno se deve à falta de quadros no PT e no grupo que apoiou Lula ou porque não existem duas elites, em especial na área econômico-financeira. Mas é certo que, pelo menos para presidência do Banco Central, a nomeação de Meirelles foi uma solução que confirma a reza pela mesma cartilha da administração anterior.

Fica no ar uma indagação: até quando o discurso entusiasmado do atual governo, a fantástica oratória popular de Lula e o expediente de por a culpa no governo anterior vão funcionar? Haverá uma hora em que, como aconteceu com FHC e Malan, a opinião pública vai começar a desacreditar? A menos que o governo Lula tenha uma fórmula mágica de ainda fazer sobrar fôlego para promover o desenvolvimento econômico com geração dos prometidos milhões de empregos.

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