A mulher no divã

Toda mulher busca, consciente ou inconscientemente, a satisfação do seu instinto mais básico que é a maternidade. Por isso é uma ilusão ver a maternidade como uma mera opção de vida. Seria poético se pudéssemos enquadrá-la na famosa proposição de Shakespeare: ser ou não ser, eis a questão. Todavia é mais que isso.

A maternidade, como disse, é instintiva, ou seja, sobrepõe-se à razão. E sobre os instintos está a base da sobrevivência de todas as espécies. Assim, ser mãe não é uma obrigação nem um direito da mulher, é, antes, uma compulsão natural. Tanto é verdade que o diagnóstico de esterilidade abala profundamente a auto-estima feminina. A mulher estéril sofre não apenas com a cobrança da sociedade, mas com a própria, pois sente-se frustrada e incompleta, tendendo a se tornar rancorosa e, principalmente, ressentida com a fertilidade alheia. Não é impróprio afirmar, inclusive, que a esterilidade está para a mulher como a impotência sexual, para o homem. E não adianta, todas, inclusive as feministas, ficam radiantes quando sentem o ventre crescer.

Ocorre que equacionar o desejo de parir com o exercício da maternidade está cada vez mais complicado, sobretudo diante das necessidades profissionais e dos anseios psicológicos do mundo moderno. Pois enquanto a mulher do passado aceitava a maternidade com uma alegria resignada, afinal sua existência não tinha outro propósito, a de hoje, por sua vez, aceita-a com uma alegria angustiada, pois sente que sua existência, no fim das contas, continua não tendo propósito maior.

Djalma Filho é advogado

djalma-filho@brturbo.com.br

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