A descoberta da arte em um labirinto neste sábado no MON

O Museu Oscar Niemeyer (MON) abre para o público neste sábado (12), às 11h, a exposição Museu Bispo do Rosário + 3, apresentando obras de Arthur Bispo do Rosário, Raimundo Camilo e José Ruffino. A exposição convida o público a entrar num labirinto. Lúdico, o labirinto é tomado por obras construídas com quilômetros de fios, quilos de tecido e papelão, dezenas de retratos, de lápis de cor e de notas de um dinheiro que passou pela transformação da arte.

A mostra é uma prévia da exposição de Bispo do Rosário que será aberta, em setembro, em Paris. Também estará sendo apresentada em Paris a exposição Imagens do Inconsciente, aberta no MON no último dia 22, que da mesma forma faz em Curitiba a prévia da mostra a ser vista pelos franceses. No mesmo período serão apresentadas as obras de Camilo e Rufino em Lousane, na Suíça.

Procedente do Museu Bispo do Rosário (RJ), a exposição é composta por 270 obras do artista Bispo do Rosário ?já falecido-, 60 obras de Raimundo Camilo e 43 obras de José Rufino. As obras de Camilo e Rufino serão apresentadas pela primeira vez ao público. Os dois artistas participarão da abertura e será a primeira viagem que farão na vida.

O cenário projetado pelo curador Ricardo Aquino pretende reproduzir a idéia de organização que o próprio Bispo do Rosário gostava de utilizar em seu "ateliê", um quarto da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio.

Os responsáveis pelo Museu Bispo do Rosário não concordam com a idéia de utilizar conceitos específicos para classificar a arte feita por pacientes psiquiátricos. Eles consideram essa uma atitude de exclusão daqueles que em essência são reconhecidamente artistas. "Classificamos as obras deles dentro dos próprios movimentos artísticos correntes. Prescindimos da obrigação de utilizar a arte como terapia ocupacional para a análise do inconsciente. Se a obra tem valor estético e artístico é arte, não importa quem a fez e em que condições", explica Aquino.

Bispo do Rosário

O ambiente manicomial é o único laço entre os três artistas, já que cada um construiu uma obra marcada por características próprias e autênticas. Nascido em Japaratuba, Sergipe, em 1911, Bispo do Rosário impregnou em sua obra a tradição dos bordados feitos pelos homens na terra natal.

Eles bordavam as vestes e os arranjos dos santos das festas religiosas. Talvez tenha sido esta a motivação original para o artista bordar mantos, fichários de nomes e até um carrossel francês antigo, além de outras peças do vestuário. Vivendo pela arte e para a arte, o artista também fez esculturas e instalações.

O período em que atuou na Ligth, empresa de energia elétrica de São Paulo e Rio, e na Marinha brasileira também lhe serviram de inspiração para a construção de sua vasta obra. Desenhos de navios, funções exercidas na Marinha e lugares por onde passou são referências sempre constantes nas obras. Fascínio especial, uma quase obsessão, ele tinha pelos nomes das pessoas que conheceu ou conviveu. Esses nomes aparecem meticulosamente organizados e repetidos em algumas peças bordadas.

Considerado um representante do início da Arte Contemporânea, Bispo do Rosário começou a fazer arte antes de ser internado. Há um desenho dele da década de 30, um estudo de objeto para a construção de um veleiro.

No hospital psiquiátrico, ele encontrava parte da matéria-prima que utilizou no lixo. A compra e a troca de objetos também lhe serviram de meios para conseguir os materiais. Antes de ser descoberto como artista, Bispo do Rosário pacientemente desfiava uniformes e lençóis para obter os fios de seus bordados. Por ter sido lutador de boxe, permaneceu longo período em cela forte. Depois de ter conquistado o respeito de funcionários e colegas, passou a ser o Xerife, ao ganhar a responsabilidade de cuidar de outros pacientes.

Bispo do Rosário faleceu no hospital psiquiátrico em 1989, após 50 anos de recolhimento. Os últimos 25 anos de vida foram sem nenhuma saída do hospital, em isolamento, "à margem dos caminhos da sociedade, do mundo da arte, do progresso tecnológico", lembra o curador. Há 802 obras assinadas por ele no acervo do Museu Bispo do Rosário. A coleção foi tombada em 1992.

Camilo e Rufino

Notas e Sonhos é o título do segmento que apresentará a cobiçada coleção de notas de Raimundo Camilo. "Ele é um artista conceitual. A intervenção que Camilo faz na moeda corrente é semelhante aos trabalhos de Valtércio Caldas, Cildo Meireles e Nelson Leirner, que também se utilizam desse tema na composição de suas obras", compara o curador Ricardo Aquino. O artista está internado há 46anos na instituição psiquiátrica carioca.

Segundo o curador, a obra de Rufino, também considerado um artista contemporâneo, encontra paralelos nos movimentos da Pop-Art e na Nova Figuração Brasileira. "A pintura dele é muito colorida e tem um toque das histórias em quadrinhos. É uma série de retratos que, em essência, são auto-retratos do próprio autor, é o inconsciente de Rufino pintado em tela." Visões Paralelas é o título do segmento que estará apresentando as obras de Rufino, internado há 52 anos.

Serviço:
Exposição Museu Bispo do Rosário + 3
Local: Museu Oscar Niemeyer
Data : dia 12
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico ? CEP: 80530-230
Telefone: (41) 350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h30h (bilheteria aberta somente até às 17h45 para venda de ingressos)
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes identificados
(Crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental, pré-agendados não pagam)
Agendamento prévio para escolas pelo e-mail: agendamento@mon.org.br ou pelo telefone (41) 350-4418, das 10h às 18h 

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