A Copa do Mundo 2014 e as ciclofaixas

A Copa do Mundo de futebol 2014 que se realizará no Brasil está cada dia mais próxima, mas o que se percebe é o atropelo dos governantes diante dos notórios atrasos nas obras que eles mesmos se propuseram a fazer para receber este grandioso evento mundial.

Obras faraônicas como a construção de “trem bala”, “metrô”, “ampliação dos aeroportos”, “aumento da rede hoteleira”, “construção de estádios” etc. são cotidianamente discutidas por políticos, empresários e agentes da FIFA, chegando-se agora ao extremo de se formular uma Medida Provisória (MP) que permite até mesmo a realização de muitas obras sem a necessária transparência em relação aos custos envolvidos, tudo para não fazer feio na Copa do Mundo.

Mas o que chama mais a atenção não é o fato de que todos já sabiam que o Brasil seria sede da Copa do Mundo (o Brasil foi escolhido país-sede pela FIFA no dia 30/10/2007) e praticamente nada foi feito nestes últimos quatro anos, mas que idéias simples e economicamente viáveis para a maior parte das cidades sede são deixadas de lado.

Uma delas é a “ciclofaixa”, destinação de espaço ao lado direito da própria via veicular para circulação exclusiva das bicicletas, que trafegam no mesmo sentido dos veículos, sem elevações ou calçadas como ocorrem em “ciclovias”. Esta simples idéia vai de encontro com o meio ambiente, estimula a prática do esporte, diminui o número de veículos nas ruas, não envolve elevados recursos e altera muito pouco a estrutura das ruas já existentes, ainda mais se projetadas por especialistas.

As ciclofaixas já existem em diversas cidades-metrópoles como Nova Iorque, Barcelona, Helsinki, Berlin, Santiago etc., e alguns estudos realizados indicam que as “ciclofaixas” representam muito mais segurança aos ciclistas do que as conhecidas “ciclovias”, pois ocorrem muito mais acidentes laterais nos cruzamentos das “ciclovias” do que colisões traseiras nas “ciclofaixas” compartilhadas.

Além do mais, a maior parte das “ciclovias” existentes ou estão restritas aos parques, ou não servem como rota de mobilidade para ciclistas se locomoverem de um extremo a outro da cidade (o que se pode fazer de ônibus p. ex.), sendo interrompidas a cada esquina por um cruzamento (além do perigo de subir e descer da calçada-ciclovia, geralmente mais elevada do que a rua) ou por repentinamente chegarem ao fim.

É cediço que muitos dos turistas que viajam para assistir a jogos esportivos são jovens (ainda que apenas de consciência), alguns inclusive já adotam a bicicleta em suas cidades para se locomoverem ou mesmo costumam alugar bicicletas quando viajam, seja por uma questão de responsabilidade ambiental (muito mais arraigada no jovem hodiernamente), seja por ser um transporte extremamente barato e ágil, criando uma mobilidade ao turista que nenhum outro tipo de transporte lhe proporcionaria.

Sem descuidar das grandes obras necessárias para a realização da Copa do Mundo, devemos aproveitar o engajamento do país neste evento mundial para também pensarmos mais e melhor na bicicleta como forma de mobilidade para as cidades.

Guilherme Borba Vianna é advogado da Popp&Nalin Sociedade de Advogados, professor de Direito Empresarial e Direito do Consumidor (FESP) e ciclista. www.poppnalin.adv.br

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