Quarenta profissionais da tevê elegem a novela de suas vidas

Num país supostamente sem memória como o Brasil, não faltaram recordações. No mês em que se completam 40 anos da estréia da primeira telenovela diária, a 2-5499 Ocupado, exibida pela extinta Excelsior em 1963, a “TV Press” convida 40 profissionais – entre atores, autores e diretores – para escolher a sua novela favorita. Ao todo, foram lembradas mais de 30 produções, de diferentes fases, gêneros e emissoras. De Sua Vida me Pertence, da Tupi, que exibiu o primeiro beijo da tevê brasileira em 1951, a O Clone, da Globo, que conciliou temas díspares como clonagem, drogas e Islamismo, em 2001. No “ranking”, Beto Rockfeller e Roque Santeiro dividiram a primeira colocação. O autor Manoel Carlos justifica seu voto no “clássico” de Bráulio Pedroso. “Foi a primeira vez que uma novela abordou temas do cotidiano, com realismo”, enfatiza.

Já o voto de Regina Duarte não foi tão isento. Na hora de escolher a novela de sua vida, optou por aquela que mudou seu rumo profissional: Roque Santeiro. “A Porcina foi uma personagem riquíssima, que deu uma mexida na minha carreira”, reconhece. O autor Gilberto Braga também votou em Roque Santeiro. Mas votou também em Vale Tudo, de sua autoria. “São as novelas que mais vi e as que mais me prenderam. Eram boas quase todos os dias”, defende.

Na verdade, Vale Tudo dividiu o segundo lugar com O Bem-Amado, de Dias Gomes. Exibida em 1973, a sátira política retratando o dia-a-dia de Sucupira foi a primeira a cores da tevê brasileira. “Em plena ditadura e com a censura funcionando a pleno vapor, Dias conseguiu manter uma crítica constante ao sistema”, elogia o ex-“todo-poderoso” da Globo, Boni. Dos muitos personagens de O Bem-Amado, destaque para Zelão, de Milton Gonçalves, que criou asas e voou no último capítulo. “Foi bonito mostrar que os sonhos podem e devem virar realidade”, destaca Milton.

Ousadia

No “ranking” das mais lembradas, Pantanal, da extinta Manchete, ocupa o terceiro lugar. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, Pantanal atingiu 40 pontos no Ibope, audiência pouquíssimas vezes registrada, de forma consistente, fora da Globo. “Era um projeto em que ninguém acreditava e que foi fruto de muita teimosia”, orgulha-se. Parceiro de Benedito em Pantanal e Terra Nostra, Jayme Monjardim optou por A História de Ana Raio e Zé Trovão, da Manchete. “Não gravei uma cena sequer em estúdio. Foi a maior ousadia feita em tevê até hoje”, acredita.

Olhar de telespectador

Dos 40 profissionais convidados para participar da enquete, poucos não votaram em suas próprias produções. Alguns deles, como Arlete Salles e José Wilker, preferiram votar como telespectadores: Arlete em Roque Santeiro e Wilker em Nino, o Italianinho. “Foi a única que acompanhei do início ao fim. Eu adorava…”, derrama-se o ator. Outros preferiram fazer referência às novelas que marcaram sua estréia. Por isso, Betty Faria elegeu Véu de Noiva, de Janete Clair, e Tony Ramos, A Outra, de Walter George Durst. “Todas as novelas que fiz foram determinantes na minha carreira. Agora, se tiver de escolher só uma, escolho a que me deu a oportunidade de ingressar na televisão”, esclarece o ator.

Personagens marcantes

Na maioria das vezes, os atores optaram por votar em seus personagens de maior sucesso. Como esquecer de Maria de Fátima, interpretada por Glória Pires em Vale Tudo, ou de Perpétua, vivida por Joana Fomm em Tieta? “Alguns personagens marcaram muito a nossa carreira. Até hoje, as pessoas se lembram do João Coragem”, exemplifica Tarcísio Meira. Já Francisco Cuoco surpreendeu na hora da votação. Em vez de evocar trabalhos memoráveis, como Pecado Capital ou O Astro, ambas de Janete Clair, votou em Redenção, de Raimundo Lopes. “Foi a primeira a utilizar cidade cenográfica, com direito a casas, armazém, igreja e até uma estação de trem”, explica o ator.

Mas, nenhum voto foi mais surpreendente que o de Ricardo Waddington. Sem titubear, ele declarou: “A novela da minha vida é a próxima…”. Diante da insistência, acrescentou: “Se você perguntar a segunda mais importante, diria que é a que estou fazendo agora…”, brinca o diretor de Mulheres Apaixonadas.

Roque e Rockfeller são as mais lembradas

01 – Ana Rosa: Alma Cigana, de Ivani Ribeiro, baseada em original de Manuel Muñoz Rico. Tupi, 1964.

02 – Antônio Fagundes: Dancin? Days, de Gilberto Braga. Globo, 1978.

03 – Arlete Salles: Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Globo, 1985.

04 – Ary Fontoura: O Espigão, de Dias Gomes. Globo, 1974.

05 – Benedito Ruy Barbosa: Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. Manchete, 1990.

06 – Bete Mendes: Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Tupi, 1968.

07 – Betty Faria: Véu de Noiva, de Janete Clair. Globo, 1969.

08 – Boni: O Bem-Amado, de Dias Gomes. Globo, 1973.

09 – Cláudio Marzo: Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. Manchete, 1990.

10 – Daniel Filho: Pecado Capital, de Janete Clair. Globo, 1975.

11 – Eva Wilma: Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro. Tupi, 1973.

12 – Fábio Jr: Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Globo, 1985.

13 – Francisco Cuoco: Redenção, de Raimundo Lopes. Excelsior, 1966.

14 – Fúlvio Stefanini: Gabriela, de Walter George Durst. Globo, 1975.

15 – Gilberto Braga: Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Globo, 1985.Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Globo, 1988.

16 – Glória Menezes: Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu. Globo, 1983.

17 – Glória Perez: O Clone, de Glória Perez. Globo, 2001.

18 – Glória Pires: Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Globo, 1988.

19 – Henrique Martins: O Sheik de Agadir, de Glória Magadan. Globo, 1966.

20 – Herval Rossano: Maria, Maria, de Manoel Carlos. Globo, 1978. Dona Beija, de Wilson Aguiar Filho. Manchete, 1986.

21 – Jayme Monjardim: A História de Ana Raio e Zé Trovão, de Marcos Caruso e Rita Buzzar. Manchete, 1990.

22 -Joana Fomm: Tieta, de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. Globo, 1989.

23 – José Wilker: Nino, o Italianinho, de Geraldo Vietri. Tupi, 1969.

24 – Lima Duarte: Direito de Nascer, de Félix Caignet. Tupi, 1964.

25. Luiz Gustavo: Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Tupi, 1968.

26 – Manoel Carlos: Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Tupi, 1968.

27 – Marília Pêra: Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Tupi, 1968.

28 – Milton Gonçalves: O Bem-Amado, de Dias Gomes. Globo, 1973.

29 – Ney Latorraca: Escalada, de Lauro César Muniz. Globo, 1975.

30 – Nívea Maria: A Moreninha, de Marcos Rey. Globo, 1975.

31 – Regina Duarte: Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Globo, 1985.

32 – Reginaldo Faria: Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Globo, 1988.

33 – Régis Cardoso: O Bem-Amado, de Dias Gomes. Globo, 1973.

34 – Ricardo Waddington: A próxima …

35 – Sílvio de Abreu: A Próxima Vítima, de Sílvio de Abreu. Globo, 1995.

36 – Tarcísio Meira: Irmãos Coragem, de Janete Clair. Globo, 1970.

37 – Tony Ramos: A Outra, de Walter George Durst. Tupi, 1965.

38- Vida Alves: Sua Vida me Pertence, de Walter Forster. Tupi, 1951.

39 – Walter Negrão: O Primeiro Amor, de Walter Negrão. Globo, 1972.

40 – Yoná Magalhães: Eu Compro Essa Mulher, de Glória Magadan. Globo, 1966.

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