Personagem fútil dá boas chances para o riso

Assim que recebeu a sinopse de Kubanacan, Fernanda de Freitas não teve dúvidas: a mimada Consuelo era tudo aquilo que ela não queria para a própria vida. Depois de seis meses no ar, a atriz continua não perdoando a futilidade da personagem, bem como sua falta de cultura e de curiosidade pelas coisas, a enorme importância que atribui às aparências e o “dom” de manipular as pessoas. Mas “deita e rola” com cada uma dessas características. “É uma personagem de um adorável humor”, justifica. É no humor de Carlos Lombardi, aliás, que ela aposta ao tentar explicar a simpatia do público por Consuelo. “Ela não segue o molde das personagens cativantes, mas o texto é tão leve e tão engraçado que o público torce por ela”, opina.

Para compor Consuelo, Fernanda misturou a imagem clássica e glamourosa da mulher nos anos 50 do século passado à sensualidade à flor da pele de ninfetas como Lolita, do livro homônimo de Vladimir Nabokov, e Angela Hayes, personagem de Mena Suvari no filme Beleza Americana, de Sam Mendes. Só a Beleza Americana ela assistiu três vezes. E reviu a versão cinematográfica de Stanley Kubrick para Lolita, a que já tinha assistido na época de compor Lolô, de Coração de Estudante, sua primeira novela. “Sabia que ela usaria a sedução, mas não queria que fosse vulgar. Por isso, quis me inspirar em exemplos não muito pesados”, explica.

A inspiração da época veio sobretudo de Rita Hayworth em Gilda, de Charles Vidor. O filme foi uma recomendação do diretor Wolf Maya, que sugeriu ao elenco feminino a cuidadosa observação dos “modos” da época – o pós-guerra. “A mulher era completamente diferente. O olhar, os modos de sentar e andar, tudo”, ensina, com ares de quem aprendeu a lição. O toque do diretor veio sob medida para Fernanda, que atribui à observação um dos principais talentos do ator. Toda vez que se depara com uma personagem, ela passa a olhar com atenção todos os comportamentos à sua volta, seja nas ruas, no cinema ou em espetáculos de teatro e dança, que faz questão de freqüentar com assiduidade. “Tudo isso ajuda não só profissionalmente, mas pessoalmente também”, destaca.

Ambientada

Em sua segunda novela, Fernanda já se julga bem mais ambientada ao mundo da tevê. Na estréia, em Coração de Estudante, ela confessa que recorria apenas à intuição para fazer seu trabalho. Hoje, no entanto, a atriz faz questão de aproveitar cada minuto de espera nos sets para aprender mais sobre a parte técnica da produção de teledramaturgia. “Sempre que posso, sento ao lado do câmara, pergunto, olho, mexo no equipamento…”, conta, empolgada. Mas o interesse não esconde qualquer pretensão no campo da direção de cena. “Acho que tudo isso tem muito a acrescentar no meu trabalho de atriz”, justifica.

É também como um exercício que Fernanda encara o atropelado ritmo de gravações de Kubanacan. Não é raro ela receber o texto que vai gravar num dia à meia-noite do dia anterior. Mas, não fosse a saudade da família – que mora em São José do Rio Preto e ela não vê desde o início da novela – este não seria um problema. “A gente sempre brinca dizendo que queria ver um ator americano recebendo o texto na véspera da gravação. E a gente dá conta do recado!”, gaba-se.

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