Peça reúne 18 contos de Trevisan

São Paulo (AE) – Quando morava em Curitiba, o diretor Felipe Hirsch costumava passar por uma casa cinzenta de esquina, na região conhecida por Alto da Rua XV. Construção antiga, com paredes desbotadas, sótão, cortinas desajeitadas em todas as janelas, ali ainda vive Dalton Trevisan, um dos maiores escritores brasileiros. E, como se tornou lendário, ele vive de forma reclusa, recusando a fama e criando uma atmosfera de suspense em torno de seu nome: não cede o número do telefone, assina apenas ?D. Trevis? e não recebe visitas. Retratos, apenas uns poucos instantâneos captados por fotógrafos escondidos.

Pois foi justamente esse homem arredio, incorrigível, apelidado acertadamente de ?Vampiro de Curitiba? (título, aliás, de um de seus mais conhecidos livros), que cedeu os direitos de adaptação de suas histórias para o palco, com a direção de Hirsch e com estréia hoje, no Teatro Popular do Sesi (São Paulo) de Educação sentimental do vampiro, reunião de 18 contos cuja principal característica é a presença marcante do sexo e do crime.

?Escolher Trevisan como nosso primeiro trabalho com texto de um autor nacional foi simples como recolher um livro caído na calçada da frente de sua casa?, conta Hirsch, que há 15 anos comanda a Sutil Companhia de Teatro, grupo já com uma sólida carreira nos palcos. ?Observo a janela fechada do Vampiro desde meus 11 anos de idade.?

De fato, a facilidade com que o grupo, que já recriou clássicos e pesquisou os caminhos da memória, tratou do mundo trivialmente violento de Trevisan encontra similaridade na própria realidade – a casa onde vive o escritor pertence a um cenário que desaparece rapidamente na moderna Curitiba, cidade planejada. Assim, isolado dos intelectuais, Trevisan criou personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e costumes são recriados por meio de uma linguagem concisa e popular.

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