Néle Azevedo abre Bienal do Ártico com ‘homens de gelo’

As cores quentes de Lygia Clark ou os contornos em madeira de Maria Martins definitivamente não inspiraram a escultora Néle Azevedo. As obras da artista não apresentam traços tropicais ou elementos da flora nacional, bastante comuns entre seus contemporâneos. A matéria-prima do trabalho da brasileira é o gelo. Nem por isso a sua arte é considerada menos ecológica que as demais, muito pelo contrário. As miniaturas humanas esculpidas por Néle, que derretem sob o sol, foram atração de amostra do World Wide Fund (WWF), no ano passado, e abriram hoje a Bienal do Ártico, promovida em Stavanger, na Noruega.

A arte minimalista, que passou a ser vista por muitos como um protesto contra o aquecimento global, faz parte da primeira exposição de um brasileiro realizada no importante evento mundial. Ainda que tenha ganho referências ecológicas, a obra da mineira trata da efemeridade do homem moderno e faz uma leitura crítica dos monumentos urbanos, carregados pelo peso do bronze e pelo poder das autoridades representadas.

Em São Paulo, as esculturas da artista já foram expostas nas escadarias da Igreja da Sé e do Teatro Municipal. Algumas das obras são expostas atualmente na mostra Recommended for Imitation – Expeditions in Aesthetics & Sustainability, em Berlim, e devem passar ainda este ano por São Petersburgo (Rússia), Melbourne (Austrália) e Atenas (Grécia). As peças em gelo já foram consagradas em vídeo pelos artistas Josef Beuys, Gordon Matta-Clark, Robert Smitson e Agnès Varda.

Os trabalhos foram imortalizados ainda pela editora alemã Taschen, que lançará no dia 28 em Nova York, nos Estados Unidos, um livro que reunirá as produções dos 150 maiores artistas contemporâneos da atualidade. Além de Néle, outros brasileiros que também marcarão presença na obra serão os grafiteiros gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo. A compilação dos trabalhos terá introdução assinada pelo artista inglês Banksy e textos de Carlo McCormick, Tony Serra, Anne Pasternak, entre outros.

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