Muito mais que um passatempo

Quem gosta de desafios, de ?exercitar o cérebro?, ou mesmo de passar o tempo, com certeza se identifica com os famosos livrinhos de palavras cruzadas. E muitas pessoas nem imaginam que esse passatempo, que hoje toma páginas de jornais, internet, salas de aula e até a tela de alguns celulares, já está quase completando um século de existência: são 94 anos.

Não só a modernidade, mas a variedade também chegou a esse mercado, que hoje traz revistinhas não apenas para o público interessado em decifrar palavras, mas também para quem gosta de matemática, lógica e línguas estrangeiras. Mais que um passatempo, uma forma centenária de adquirir cultura e conhecimento.

Uma das maiores empresas do ramo no Brasil é a Coquetel. O diretor editorial do local, Henrique Ramos, acompanhou a evolução do passatempo pelo menos nos últimos 20 anos. Ele lembra que no início havia poucos tipos de enigmas, pois era a fase de se descobrir o que o consumidor queria. ?Antes nossa revistas eram voltadas mais para a brincadeira com as palavras, hoje temos vários desafios de números e lógica. Procuramos sempre adequar nossas revistas à evolução dos gostos do consumidor. Mas não deixamos as revistas perderem o valor lúdico. Tem que juntar o lazer com o desafio e o aprendizado, para agradar todos?, comenta.

As palavras cruzadas, porém, lideram as vendas. Hoje, pesquisas já indicam que a maior parte dos apaixonados pelo passatempo são universitários na faixa etária dos 16 aos 45 anos. Ao contrário do que se pensava, apenas 10% do público é composto por idosos. A pesquisa foi realizada pela Coquetel. O público jovem também se destaca nas escolas, uma vez que as palavras cruzadas são usadas como ferramentas pedagógicas. ?Vemos muitos professores reclamando que os estudantes não gostam de ler, lêem contrariados. Então eles têm tido mais preocupação em escolher temáticas que agradem os alunos e usam as palavras cruzadas e os desafios de lógica para isso?, diz Ramos. Hoje a Coquetel tem 600 mil leitores cadastrados na internet, ou seja, que fazem palavras-cruzadas na tela do computador.

No Colégio Estadual Professor Júlio Mesquita, no Jardim das Américas, em Curitiba, o passatempo é muito utilizado como ferramenta pedagógica. A professora de inglês Deusuita Lyrio ilustra suas aulas para jovens e adultos com o auxílio das palavras cruzadas, que também são editadas em inglês. ?Creio que as palavras cruzadas aumentam o vocabulário dos meus alunos, os incentiva a pesquisar e a usar o dicionário, fica mais fácil para eles assimilarem o conteúdo. O aproveitamento é muito bom?, comenta a professora. Ela está tentando entrar no projeto da Coquetel, que disponibiliza revistas para 16 mil escolas no País, mas até agora não conseguiu. A professora de História Maria Helena (da mesma escola) também utiliza as revistinhas em sala de aula. ?Percebo que os estudantes têm dificuldade de assimilar termos históricos, e as palavras cruzadas auxiliam nisso?, disse. Para incentivar mais ainda os jovens, a Coquetel tem um sonho: fazer um campeonato de palavras-cruzadas no Brasil (onde só existem campeonatos de puzzles, como os desafios lógicos, por exemplo).

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