Lula mostra sua face roqueira

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem, no Palácio do Planalto, a banda Capital Inicial. Ao receber uma guitarra Condor do vocalista Dinho Ouro Preto, Lula brincou de roqueiro, “tocando” o instrumento diante dos fotógrafos. A guitarra será doada ao Programa Fome Zero. O presidente também foi presenteado com um boné e um crachá de convidado número 1 ao Brasília Music Festival, evento que ocorrerá no Distrito Federal entre os dias 25 e 27 deste mês, com a apresentação, entre outros artistas, do grupo Capital Inicial.

Em princípio, Lula evitou tocar a guitarra, alegando a falta do dedo mindinho da mão esquerda. Dinho argumentou então que o guitarrista inglês Tony Iommi, do Black Sabbath, embora tenha problema físico semelhante, é um dos maiores nomes do rock. Presente ao encontro, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantou um trecho da música Rock do Segurança, de sua autoria: “O segurança me pediu o crachá/Eu disse: nada de crachá, meu chapa/Sou um escrachado, um extra achado”, diz o refrão.

Os integrantes do Capital Inicial não conseguiram esconder a euforia com o encontro. O vocalista aproveitou para dar um recado ao presidente Lula. Com os versos da música Faroeste Caboclo, da Legião Urbana, ele cantarolou: “Eu vim aqui para falar com o presidente / Para ajudar toda essa gente que só faz sofrer”. Lula assinou a guitarra que recebeu de presente.

O presidente tem se mostrado cada vez mais aberto às manifestações culturais. Na noite anterior, emocionou-se ao assistir ao documentário Paulinho da Viola – Meu Tempo é Agora, no Palácio Alvorada, com o próprio sambista, o ministro Gilberto Gil, a diretora do filme, Izabel Jaguaribe, políticos e outros convidados. Ele não economizou elogios. “Foi o melhor filme que vi aqui. Vocês que o fizeram, não têm dimensão da importância, assim como Leônidas da Silva não imaginava que entraria para a história ao criar o gol de bicicleta”, disse Lula, fiel às metáforas futebolísticas. “Mais do que um filme sobre Paulino da Viola, vocês mostraram a criatividade do povo brasileiro, ao torná-lo protagonista e coadjuvante da história contada.”

Emoção

Gil tinha os olhos marejados no fim da sessão, que marcou, se não sua reconciliação com Paulinho, ao menos uma reaproximação, depois de mais de sete anos de rompimento, por questões de um cachê diferenciado (Gil e Chico Buarque ganharam mais e Paulinho bem menos) no show de réveillon de 1996, em Copacabana. Gil não estava na lista de convidados, mas chegou pouco antes da sessão e trocou cumprimentos frios com o sambista e sua mulher, Lila Rabello. Depois da sessão, disse que Paulinho da Viola é fundamental.

“Ele é o depositário de nosso patrimônio imaterial. Tem uma dimensão rara da riqueza de nossa música, porque é de uma geração intermediária. Ele é de 1942, como eu, mas é mais eficaz como ponte entre a geração que começou tudo no início do século passado, e a que continua esse processo”, disse, emocionado, o ministro. “Esse documentário entra para o acervo de nossa cultura e outros devem acontecer. Isso sem falar do prazer de ver e ouvir Paulinho da Viola falar e, principalmente, cantar.” Paulinho ouviu e agradeceu. Na despedida, abraçaram-se, mas nenhum dos dois falou das divergências passadas ou de contatos futuros.

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