Laboratório

Para uma forma de comunicação tão inovadora quanto a televisão, muitos programas ficaram velhos demais. São maneiras de fazer as coisas que se tornam um padrão e acabam se repetindo por décadas a fio. Profissão Repórter tem a rara qualidade de inovar o jornalismo na tevê ao mesmo tempo que prepara novos profissionais. O quadro do Fantástico surgiu em meados do ano passado e conseguiu tal destaque que ganhou um especial na semana retrasada, dedicado aos motoboys. Ele é capitaneado por Caco Barcelos, que passou por vários jornais e revistas antes de se tornar repórter de tevê e correspondente internacional. A direção fica a cargo do jornalista Marcel Souto Maior, também autor de alguns livros best-sellers.

A despeito do talento e da experiência dos envolvidos na produção, são os jovens repórteres da equipe que tornam o quadro tão interessante. Profissão Repórter traz para o jornalismo televisivo as inovações de temática e de abordagem que os documentários cinematográficos apresentam nos últimos anos. Com o surgimento de novas câmeras digitais, com qualidade de resolução cada vez mais alta, tamanhos redizidos e custos mais baixos, uma onda de novos filmes tomou conta do mundo.

O documentário passou a gozar de um destaque inédito. A boa reputação do gênero aumentou com o documentário Buena Vista Social Club, de Win Wenders, e o programa TV Nation, do americano Michael Moore. Com a repercussão de sua maneira politizada e irreverente de fazer jornalismo, Moore chegou ao cinema com Roger and Me, The Big One, na década de 80. E, finalmente, alcançou projeção internacional com Tiros em Columbine, de 2002, e Fahrenheit 9/11, de 2004.

Essas experiências acabaram influenciando a tevê e o jornalismo praticado pelas emissoras. Há uma clara tentativa de se descobrir novas pautas, formas menos repetitivas de se apresentar as matérias e uma relação mais autêntica do repórter com a notícia. Um pouco disso tudo acompanha as investigações do jovens repórteres de Profissão Repórter, nome que remete a um dos mais célebres filmes do diretor italiano Michelangelo Antonioni.

O trabalho de pesquisa feito simultaneamente por várias equipes supre de informações o que poderia se tornar uma matéria apressada e burocrática. E mesmo a pretensa isenção e imparcialidade do jornalismo cede lugar à emoção de presenciar acidentes e sofrimentos humanos. Sem, porém, ceder ao tom ?indignado? de pseudo-jornalísticos que consomem o tempo – e a paciência dos telespectadores – com verborragia e pouquíssima informação. Melhor ainda são as tomadas e enquadramentos dos novos câmeras, que buscam originalidade sem perder o eixo do bom senso em desnecessários movimentos e enquadramentos bizarros.

Ninguém pode dizer exatamente o quanto dessas experiências serão absorvidas ou não pelos jornalísticos, mas o sucesso de qualquer transformação depende de muito trabalho e boas idéias. Profissão Repórter tem algumas delas.

Voltar ao topo