García Márquez escreve prólogo de livro sobre Julio Cortázar

No livro “Imagen de Julio Cortázar”, do escritor mexicano Ignácio Solares, o prólogo recebe a assinatura de Gabriel García Márquez, amigo do escritor argentino. “O livro de Ignácio Solares me fez sentir o quão vivo está Cortázar entre nós”, começa nostálgico o escritor colombiano.

Reproduzido pela revista argentina Radar, o texto de García Márquez rememora uma viagem que o autor de “Cem Anos de Solidão” fez a Praga “no histórico ano de 1968”, ao lado de Cortázar e do escritor mexicano Carlos Fuentes.

“Viajávamos de trem de Paris porque nós três éramos solidários com relação ao nosso medo de avião, e havíamos falado sobre tudo enquanto atravessávamos a noite dividida das Alemanhas, os seus oceanos de beterraba, as suas imensas fábricas de tudo, os estragos de guerras atrozes e amores desaforados”, continua Gabo, que conheceu Cortázar na capital francesa “no outono triste de 1956”.

 Em seguida, o Nobel de Literatura narra como o autor de “Jogo da Amarelinha” deu uma “aula deslumbrante” sobre “a recomposição histórica e estética” do jazz, que “culminou com as primeiras luzes da manhã em uma apologia homérica de Thelonious Monk”, após Fuentes perguntar a Cortázar quem introduziu e em que momento foi introduzido “o piano na orquestra de jazz”.

“A pergunta era casual e não pedia nada mais que uma data e um nome”, assombra-se García Márquez, que ainda detalha de forma poética a entonação de voz e os gestos das mãos do seu ídolo literário, “o homem mais alto que se podia imaginar”. 

“Nem Carlos Fuentes nem eu jamais esqueceríamos o assombro daquela noite ‘irrepetível’.”

A obra de Solares explora, por meio de cartas, entrevistas e depoimentos de escritores e críticos, os componentes oníricos, religiosos, parapsicológicos e mágicos da obra de Cortázar, que nasceu na Bélgica, mas que foi ainda pequeno para a Argentina; ele acabou morrendo de leucemia em Paris no ano de 1984.

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