Eterna juventude

Há pessoas que fazem parte da história e outras que fazem história. Hebe é história. Passado e presente da música e da televisão brasileiras, que podem ser vistos às segundas-feiras no Hebe, no SBT. Quando o jazz ainda era ritmo da moda, ela integrava um grupo vocal inspirado nas ótimas Andrew Sisters americanas. Foi cantora sertaneja, de sambas e de boleros. Sucedeu o clássico Calouros em Desfile de Ary Barroso no rádio. Trouxe a cançoneta italiana e as ?chansons? de Piaf para o Brasil.

Fez mais. Atuou em filmes de Mazzaropi e de Oduvaldo Vianna. Contracenou com humoristas do porte de Ronald Golias e Nair Bello. Ao lado do amigo Ivon Cury, já cantava na tevê em 1950, no programa Rancho Alegre. Desde 1966, está no ar com seus programas de música, dicas e entrevistas. Na estréia, com Roberto Carlos como convidado, conseguiu 70% da audiência. E, no ano passado, foi ao ar o milésimo Hebe.

Por todas essas coisas, Hebe Camargo já seria uma personalidade única da televisão brasileira. Mas nem por um segundo seu programa sucumbe ao saudosismo e às velhas histórias. Sempre é novo, mesmo que amarrado no mais antigo dos formatos, a conversa de sofá. Com tanta experiência, Hebe trata seus entrevistados com uma intimidade e uma descontração que realmente trazem surpresas e revelações.

E que é tudo o que o telespectador quer saber em um ?talk-show?. Na segunda-feira passada, com uma intimidade de vizinha elogiou o sorriso de uma modelo e perguntou à cantora Paula Toller o nome de seu marido – Lui -para em seguida dizer que era o mesmo do seu cachorro. Sua fluência e vitalidade só não conseguem superar a mediocridade de algumas pautas. Mas sempre que pode, surpreende com uma franqueza desconcertante. Representa para o telespectador a imagem de uma mulher verdadeira, não importa que suas opiniões sejam singelas e que seus gostos sejam classificados como bregas. Nem seus brincos maiores que candelabros lhe ofuscam o brilho.

Uma pena que o programa não continue a ser transmitido ao vivo, situação que esta artista domina com o prazer e a tranqüilidade de quem bebe uma cerveja gelada. Numa época na qual a idéia de sofisticação e de elegância é muito mais associada à estética da Globo do que do SBT, a permanência de Hebe demonstra que a validade de modelos e de projeções é limitada ao sucesso de seus exemplos. Sem agressões, sem verborragia e sem apelações, Hebe Camargo ainda é uma das melhores entrevistadoras de celebridades no Brasil. Seus pais foram proféticos ao escolher para a filha o nome grego. Hebe é a deusa da juventude.

Hebe – SBT – Seg., às 22h30.

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