Era uma vez em Hollywood

Qualquer semelhança não é apenas mera coincidência em O profeta. Na trama das seis da Globo, ?cópias? de divas e galãs hollywoodianos desfilam suas estampas de poás, cinturas marcadas por largos cintos ou estruturados topetes e bigodinhos baseados em todo o glamour dos anos 50. Marilyn Monroe, Clark Gable ou Audrey Hepburn, por exemplo, são alguns dos ídolos que inspiraram a produção. Eles também serviram de orientação para os figurinistas Sônia Soares e Paulo Lóis na caracterização de todo o figurino da novela adaptada por Walcyr Carrasco.

A dupla ainda se debruçou sobre recortes de revistas empoeiradas e um vasto arquivo cinematográfico da época para compor o visual dos personagens. ?Cada ator se parece com algum artista da época. As inspirações surgiram através de algumas semelhanças, como Paola Oliveira, que tem a doçura da Grace Kelly?, explica a figurinista, se referindo à protagonista Sônia.

Sensualidade de Marilyn no personagem de Paula Burlamaqui.

Para apimentar o figurino da vilã Carol Castro, que vive a ambiciosa Ruth, os figurinistas lhe deram o ar esnobe de Ava Gardner, que adorava colecionar jóias e amantes sedutores. Por isso, o visual da personagem é todo pespontado com vestidos sensuais, decotes profundos e algumas peças de pele, que sugerem uma sutil luxúria. Marilyn Monroe, a ?femme fatale? da tela grande também inspirou a sensualidade de Teresa, de Paula Burlamaqui, que usa uma peruca curta e ondulada num tom louro platinado. ?Também fizemos um vestido idêntico ao que a Marilyn usou no filme O Pecado mora ao lado para caracterizar ainda mais a personagem?, explica Paulo Lóis.

Uma das peças mais curiosas – e sensuais – são as hoje pouco usadas anáguas, que escondiam as pernas roliças das ?pin-ups? mais atiradas da época, como a Baby, de Juliana Didone. O ?look? da personagem, aliás, é inspirado na elegante Audrey Hepburn, protagonista do filme Bonequinha de luxo. Topetes masculinos também têm vez. Debaixo de muito laquê, Tony, o personagem de Daniel Ávila, se veste como um ?rebelde sem causa?. Seu acervo é composto de jaquetas de couro e muito jeans, totalmente criado a partir do visual de James Dean no filme Juventude transviada. ?O interessante é que as roupas de época ficam inadequadas nos personagens e até engraçadas. Precisamos misturar muita coisa contemporânea com detalhes da época justamente para parecer antigo?, ressalta Sônia.

O recurso de misturar o retrô com o contemporâneo, na verdade, é muito utilizado nas mais recentes coleções de moda que, em sua maioria, foram também inspiradas nos anos 50, com o ?revival? de tecidos com poás, saltos anabela, cintura mais alta, saias godês e bordados, por exemplo. ?Isso nos ajudou muito. Compramos muitas roupas de marcas como Reinaldo Lourenço, Adriana Barra, Maria Bonita Extra, Mixed, Le Lis Blanc, Tessuti e Zara. Nem todas precisamos fazer?, constata Paulo.

Todo esse trabalho de pesquisa e modelagem do figurino começou três meses antes da trama estrear. Nesse período, foram definidos os estilos e as ?tendências? de visual de cada personagem. Alguns, segundo os figurinistas, de tão caricatos, são mais fáceis de caracterizar. Como a vidente charlatã Rúbia, de Rosi Campos, inspirada na atriz Gloria Swanson, já em sua maturidade. A vestimenta de Ernesto, de Mário Gomes, foi baseado no eterno galã Clark Gable. Independentemente dos astros hollywoodianos, o acesso fácil a modelagens de diversas épocas facilita o trabalho dos figurinistas. ?Sem falar que os anos 50 estão na moda. Nesse momento, os estilistas estão com seus olhares voltados justamente para essa época?, constata Sônia.

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